Nascido em Borba, mas a viver em Estremoz, André Soares, 25 anos, conquistou o título mundial de corrida por pontos no Campeonato do Mundo de Ciclismo de Estrada para Surdos, realizado na Poló- nia. A que juntou uma medalha de bronze na velocidade e um quinto lugar no contrarrelógio. Uma jornada em cheio para quem tem a paixão pelo ciclismo desde muito novo, tendo competido pela primeira vez em 2015, no Estremoz Bike. Seguiram-se algumas maratonas de BTT, antes da mudança para o ciclismo em estrada, tendo começado por integrar a formação da Bairrada, uma das melhores equipas de formação do país.
“No início de 2019 encostei a bicicleta, desisti mesmo do ciclismo, devido ao meu problema de audição. Só depois é que regressei, nesta vertente de ciclismo para surdos, foram os meus amigos e familiares que me incentivaram a voltar, depois de uma paragem de dois anos”, recorda.
Desde então tem sido sempre a somar, competindo em vários eventos, tanto em Portugal como no estrangeiro, incluindo os campeonatos olímpicos para surdos, realizados em 2021 no Brasil, um dos eventos desportivos internacionais mais antigos do mundo.
Treino e competição valeram-lhe agora o reconhecimento que tanto ambicionava, incluindo o título de campeão do mundo, na prova por pontos. Somou 82, mais 21 que o segundo classificado. Trata-se de uma prova de 30 quilómetros, em 30 voltas a um circuito, sendo que a cada duas há um sprint pontuável onde se atribuem pontos: cinco para o primeiro, três para o segundo, dois para o terceiro e um ponto para o quarto. André Soares conseguiu mesmo uma volta de avanço, que lhe valeu 20 pontos.
Foi uma “corrida perfeita”, comentou o selecionador, Valter Sousa, recordando que o ciclista estremocense conseguiu “ganhar 20 pontos aos rivais com a volta ao circuito, mantendo-se sempre sozinho, na frente, para evitar o risco de queda”.
“É sempre bom participar em eventos fora do país, as provas são quase sempre as mesmas, mas o ambiente é diferente, é mais interativo”, diz o ciclista, reconhecendo ser “gratificante ver que todas as horas de treino, realizadas todos os dias, sem falhas, foram reconhecidas a nível mundial”.
O treino é fundamental, mas também uma alimentação controlada ao exercício diário. Agora, o ciclista diz estar na fase denominada de pré-época, “mais marcada por caminhadas, corridas, e treino de ginásio para manter a condição física”. Depois irão recomeçar os treinos mais intensos de bicicleta, “como treinos em blocos de cinco e de seis horas, para criar volume nesta parte da época”.
André Soares conta que em dezembro, como sucede anualmente, começará a conciliar treinos longos, com outros mais curtos, para que no início da próxima época, lá para fevereiro, “esteja preparado o melhor possível”. O calendário será marcado, primeiro, pelos campeonatos nacionais, depois pelos jogos olímpicos para surdos, em novembro. Um novo palco mundial a que ambiciona regressar.
“Não convém estar muito tempo parado, nem consigo, porque o meu corpo está habituado ao treino diário. Se não treinar nemme sinto bem, não me sinto a mesma pessoa. O ciclismo é um desporto no qual a fórmula para o sucesso é 90% de treino e 10% de genética ou de jeito”, acrescenta o ciclista, atualmente integrado na equipa da Rádio Popular Paredes Boavista, uma equipa profissional onde pretende continuar a carreira desportiva.
Os objetivos também estão definidos: continuar a treinar, para lutar pelos lugares cimeiros nas várias provas em que irá participar. Dia após dia, André Soares não só reafirma o seu talento e determinação, como também quebra barreiras no desporto, provando que limitações auditivas, ou outras, podem não impedir a concretização do sonho. O dele faz-se sobre rodas.