A morte de Francisco Pinto Balsemão não é apenas o fim de uma vida longa e notável, é o encerramento de uma era. Num tempo em que os media se reinventam a cada segundo, ele foi a bússola que nos ensinou a navegar com ética, visão e coragem. Fundador, político, empresário, mas acima de tudo, um pensador livre.

Durante os 14 anos em que tive o privilégio de ser diretora no Grupo Impresa, fui identificada inicialmente como “jovem de elevado potencial”: uma distinção que me abriu portas para inúmeras reuniões com o próprio Dr. Balsemão. Esses encontros não eram apenas momentos de trabalho; eram verdadeiras aulas de pensamento estratégico, de ética e de visão. A forma como me interpelava, com perguntas que exigiam reflexão profunda, mostrava o seu respeito pela inteligência dos outros e o seu compromisso com o futuro.

Recordo com emoção a sua curiosidade genuína sobre o futuro dos media. “Clarisse como imagina os media daqui a 20 anos?” – perguntava-me com aquele brilho nos olhos, que só os verdadeiros visionários têm. E eu respondia, vislumbrando parte do que temos hoje, informação em qualquer lugar, e selecionada pelo utilizador final; eu tinha uma visão idêntica e Francisco Pinto Balsemão sabia isso, ainda que ele já visse mais longe do que qualquer um de nós. Para ele, o jornalismo não era apenas uma profissão, era uma missão. Uma missão de informar com rigor, de formar consciências, de defender a democracia.

Francisco Pinto Balsemão acreditava que os media do futuro teriam de ser mais do que plataformas tecnológicas, teriam de ser espaços de verdade, de pluralismo e de responsabilidade social. E foi com essa convicção que nos desafiou a inovar, a crescer, a não nos acomodarmos. 

Hoje, ao despedirmo-nos deste gigante da liberdade, não choramos apenas a sua ausência. Celebramos a sua vida, o seu exemplo, e o privilégio de termos aprendido com ele. A sua voz continuará a ecoar em cada redação que ousa ser livre, em cada jornalista que escolhe a verdade, em cada cidadão que acredita que a informação é um direito e um dever.

Obrigada, Dr. Balsemão. Por tudo. Por tanto.