Com rebanhos dizimados pela língua azul, borrego “vale ouro” na Páscoa

Em vésperas da Páscoa, época em que a carne de borrego é tradicionalmente mais procurada, os preços destes animais atingiram valores sem precedentes, consequência da forte diminuição dos rebanhos provocada pela doença da língua azul. Sérgio Major/Lusa (texto) e Nuno Veiga/Lusa (fotografia)

“Há pessoas da idade do meu pai, dentro dos setenta anos, que não se lembram de ver os preços assim”, garante Alexandre Lobo, agricultor e criador de ovinos, com uma exploração na zona de Redondo.

O produtor é um dos participantes no leilão de ovinos e caprinos que antecede a Páscoa, promovido pela Associação dos Jovens Agricultores do Sul (Ajasul) e pela Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Raça Merina (Ancorme), em Évora.

“Não nos podemos queixar”, reconhece Alexandre Lobo, admitindo que os valores a que os animais estão a ser vendidos “têm sido uma mais-valia para o produtor”. O criador, que gere 1.500 ovelhas, aguardava para descarregar um lote de cinquenta borregos para o leilão.

Ainda assim, lembra os pesados prejuízos causados pela língua azul, que já lhe custou cerca de 40 mil euros, entre a morte de animais jovens e adultos e os abortos registados. Os preços elevados nesta altura ajudam a compensar parte das perdas.

“Muitas pessoas desistiram e outras andam desanimadas. Se não fossem os preços a que os animais estão, então…”, desabafa o agricultor, sublinhando que a Páscoa marca tradicionalmente um período de maior valorização para esta carne.

Enquanto os animais eram pesados e organizados em parques, André Pinto, gerente de uma empresa grossista de carne da zona do Porto, percorria o pavilhão em busca dos lotes mais interessantes. “Os preços aqui praticados são uma coisa fora do normal”, comenta, reconhecendo que os produtores atravessaram “um ano muito difícil”, mas “nunca receberam tanto dinheiro na vida como este ano”.

Para o lado de quem compra, o cenário é mais complicado. “Temos que vender, para defender o mercado, abaixo do custo de compra, porque, se não, os consumidores não a adquirem”, explica o empresário.

Tiago Perloiro, secretário técnico da Ancorme e também criador, confirma que “este ano há menos animais e a razão é a língua azul”. O novo serotipo 3 da doença, detetado em setembro do ano passado, causou mortes e abortos, reduzindo significativamente os efetivos.

A par da diminuição de cabeças no campo, a procura acrescida para exportação fez disparar os preços, sobretudo nos primeiros meses do ano. “No final de 2024, tínhamos borregos vendidos entre os 100 e os 150 euros, dependendo das classes de peso. No início do ano, os preços subiram muito e chegaram a rondar os 200 euros”, exemplifica.

Ainda assim, Tiago Perloiro antevê uma estabilização dos preços, influenciada pela entrada de borregos vindos de Espanha nas últimas semanas e por alterações no mercado de exportação.

“O borrego está mais caro do que no ano passado. É a lei da oferta e da procura. Há pouco e está mais caro”, confirma o presidente da Ajasul, Diogo Vasconcelos, estimando que se tenha perdido entre 60% e 70% da produção nacional de ovinos.

O dirigente acrescenta que, “como os intermediários compram mais caro, também vão vender mais caro” e, por isso, a carne de borrego vai chegar com preços mais elevados aos consumidores.

“Face ao preço a que está, esta carne vai ser uma iguaria em Portugal. Não é para todas as carteiras”, comenta Alexandre Lobo.

Já Carlos Balsa, criador de ovinos com exploração próxima de Évora, optou este ano por não participar no leilão. Em vez disso, decidiu manter o maior número possível de fêmeas e machos para repor as perdas provocadas pela doença. “Se não fossem estes animais de reposição e a morte de 140 crias, teria um número bem maior de animais para vender”, admite.

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