O sushi de Guilherme Charão não é apenas isso. É também uma forma de arte

Guilherme Charão veio para Portugal obter um certificado de mestria em sushi, acabando por abrir um restaurante em Estremoz. Chama-se Sushi Art. Não sendo uma aposta óbvia, numa região onde a gastronomia está enraizada na identidade cultural, o sucesso mede-se pela ambição: para breve está a abertura de um segundo restaurante, agora em Évora. Mariana Miguéns (texto e fotografia)

Natural de Santa Catarina, no Brasil, Guilherme Charão cresceu entre os aromas e sabores que permaneciam na cozinha da sua avó, descobrindo ali uma paixão que moldaria a sua vida. O que começou como uma curiosidade infantil logo se transformou numa vocação. Tentou entrar na universidade para fazer engenharia alimentar, acabou em gastronomia, onde se encontra até hoje.

O interesse pelo sushi surge durante um estágio, realizado num dos melhores restaurantes de sushi do Brasil, onde esteve cerca de dois anos, aprofundando os segredos de um dos pratos mais emblemáticos da culinária japonesa, muito mais do que uma simples refeição, “uma verdadeira arte que combina tradição, técnica e inovação”.

“Mudei me para Lisboa em 2017, o meu grande objetivo era vir para Portugal tirar o certificado de mestria [“proficiency certificate”], que consiste numa autorização do Japão para manipular os pescados… não consegui logo ingressar, por isso trabalhei durante muito tempo noutros restaurantes, mas sempre na área do sushi que é a minha paixão”.

Em 2021, surge uma proposta de vir para o Alentejo, em Estremoz, para fazer parte do projeto de um amigo. “Como nessa altura a minha vida em Lisboa não estava assim tão fácil decidi abraçar a proposta”.

É em 2023 que Guilherme Charão aposta na criação do seu próprio negócio de sushi, embora receoso pela “notável negação ainda existente, especialmente na população mais envelhecida” sobre este tipo de cozinha, sobretudo numa região “famosa pelos seus pratos robustos e saborosos”, como o cozido de grão, ou a açorda, não apenas alimentos, também parte da identidade cultural da região.

O que para muitos podia ser um problema, neste caso transformou-se em vantagem, pois Guilherme aproveitou o facto de ser o único cozinheiro a fazer sushi na cidade de Estremoz e abriu o seu próprio negócio, primeiramente apenas no sistema de take away, agora já com sala aberta para jantares, na Rua Florbela Espanca.

“Foi difícil trabalhar as mentes mais fechadas, muita gente ainda tem a ideia de que o peixe cru traz doenças ou que é algo incomum de se comer. Essa visão pode ser um obstáculo, para mim foi gratificante porque aqueles que se aventuram a experimentar o sushi começam a apreciar a qualidade dos ingredientes frescos e a habilidade envolvi- da na preparação, reconhecendo que, apesar de diferente, o sushi compartilha a mesma valorização pela frescura e pre- cisão”, refere.

Guilherme Charão reconhece que nem sempre foi fácil, “chorei várias vezes, pensei nas oportunidades que tive para sair do país, ganhar mais e ter menos responsabilidades”, mas garante que a partir do momento em que abriu o seu próprio negócio as coisas mudaram: “Tudo sou eu, ou resolvo ou nada feito, pois a ideia de ser patrão é só nos filmes”.

Quanto a objetivos, os seus são claros: “Quero permanecer aqui no Alentejo o resto da minha vida, vejo muitas oportunidades aqui”. Tantas que vai abrir um outro restaurante em Évora e depois expandir-se para Espanha, começando por Badajoz.

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