“Na manhã de 25 de abril de 1974, quando ligaram o rádio, antes de irem trabalhar, ficaram a saber que o Movimento das Forças Armadas (MFA), fundado por militares, resolveu derrubar o Estado Novo sem recorrer à força e na calada da noite, uma coluna de soldados, comandados por capitães, convenceram Marcelo Caetano a entregar-se. O golpe de Estado, foi uma revolução pacífica. Mas Chico, Maria e os seus filhos, foram na mesma para o seu trabalho, que a plantação de tomate não podia esperar… e trabalharam de sol a sol, sem perceberem que muita coisa iria mudar”.
Esta é uma pequena parte do conto com que Carolina Ideias – natural de Monforte e aluna de humanidades do 12.º ano – venceu o Concurso de História Militar e Juventude sob o tema “O 25 de Abril na minha terra”.
O trabalho da Carolina, um conto intitulado “A História do Chico e da Maria”, foi realizado em contexto escolar, na Escola Secundária de S. Lourenço, em Portalegre, com a tutoria do professor Gonçalo Pacheco, e narra em forma de conto as vivências de avós e bisavós da Carolina e as memórias que a aluna de 18 anos guarda das histórias que estes lhe contaram.
“Foi a primeira vez que escrevi um conto. E escrever um texto, baseado em testemunhos reais, não foi um trabalho fácil. Foi com base nos testemunhos que havia recolhido junto da minha bisavó, com 95 anos, das minhas avós e outros familiares, para um trabalho realizado para a disciplina de história, que tentei resumir as conversas que tive”, diz a aluna, revelando ainda o seu receio, fruto da inexperiência: “Senti que era algo que requeria muita responsabilidade, pelo facto de estar a escrever e a resumir a vida de alguém, e com simplicidade tentei”.
Representando a vida real de muitas pessoas no Alentejo e até um pouco por todo o país, o Chico e a Maria “são pessoas reais que viveram o antes e o depois do 25 de Abril de 1974, e que trabalhavam de sol a sol”. Num Portugal ainda marcado pelo desenvolvimento a duas velocidades e pela interioridade, a jovem alentejana revela o seu objectivo: “O meu objetivo com este conto foi mostrar que a realidade do Alentejo, era diferente da realidade de Lisboa, e que aqui as coisas foram vividas de outra forma”.
“Relatei a história dos meus bisavós e avós, mas tenho a certeza que há centenas de ‘Marias’ e ‘Chicos’ por este Alentejo, que naquela época trabalhavam de sol a sol, que viram os seus filhos partir para a guerra colonial e que no dia 25 de Abril de 1974, depois de ouvirem as notícias no rádio, saíram para trabalhar da mesma forma”, acrescenta.
Carolina Ideia refere ainda que a escrita desta narrativa lhe permitiu, “como neta e bisneta, conhecer mais sobre a história” da sua família e descobrir factos que desconhecida. “Foi uma forma de ficar a saber mais sobre o Alentejo e a sua relação com o 25 de Abril e também de homenagear as minhas raízes.”
Esta foi a quarta edição do concurso promovido pela Associação de Professores de História (APH) e pela Comissão Portuguesa de História Militar (CPHM) em cooperação com a Comissão Coordenadora dos 50 Anos do 25 de Abril teve o apoio do Plano Nacional de Leitura 2027, da Associação Nacional dos Municípios Portugueses, da Associação 25 de Abril e da Liga dos Combatentes.
Trata-se de uma iniciativa dirigida aos alunos que frequentem os 2.º e 3.º ciclos e secundário (regular e profissional) e tem por objetivo fomentar o gosto pela história militar de Portugal. A sugestão para a escrita partir do professor Gonçalo Pacheco, no âmbito da disciplina de História: “Resultou da sensibilização feita aos alunos do 12º ano, tendo em conta a importância da efeméride e a matéria leccionada na disciplina de História nesse ano de escolaridade”.
O docente sublinha que a “possibilidade de integração de elementos da história local e das vivências e testemunhos de pessoas que, à sua maneira, viveram e sentiram o Estado Novo, o 25 de Abril e as transformações por si provocadas era um aliciante que não podia passar em claro”. O resto foi obra da aluna: “Foi a criatividade da Carolina que, de forma inteligente, encadeou a história dos seus familiares na história e nas dificuldades de quem viveu no Alentejo no período antes da Revolução. O trabalho é, assim, uma história pessoal, mas que resulta de uma pesquisa aprofundada sobre a época. Isto é uma forma de vivenciar a História, demonstrando que esta é feita, também, pelas pessoas comuns.”
Já a diretora da escola portalegrense, Graça Sousa, destaca o “orgulho para a escola ter alunas que participam nestes concursos e com a qualidade do trabalho apresentado pela Carolina Ideias. Estas participações são muito importantes na formação integral dos alunos e marcam o seu percurso escolar e aquilo que serão enquanto adultos”.