A cidade de Montemor-o-Novo acolhe até sábado, dia 14, a PT.25 – Plataforma Portuguesa de Artes Performativas, uma iniciativa d’O Espaço do Tempo que, em 2025, assinala a sua nona edição. O evento reúne programadores e curadores internacionais numa mostra de obras recentemente estreadas em Portugal, nos domínios da dança, do teatro e da performance contemporânea.
“A PT.25 afirma-se como uma montra relevante para a divulgação internacional da criação artística portuguesa, especialmente nos campos da experimentação e da transdisciplinaridade”, refere fonte d’O Espaço do Tempo. “Queremos dar visibilidade a obras que muitas vezes escapam aos circuitos mais convencionais, mas que são absolutamente essenciais para pensar o presente e o futuro das artes performativas.”
Entre as propostas programadas para os dois últimos dias do evento, destaque para “Volta para a Tua Terra”, da artista brasileira Keli Freitas, em cena esta sexta-feira, dia 13. A peça parte de uma busca autobiográfica sobre identidade e pertença, num cruzamento entre a história familiar da criadora e a experiência de migração. No palco, Keli partilha o espaço com Gigi, amiga e cúmplice de vida, que se estreia como atriz aos 77 anos. A obra é o segundo capítulo de uma trilogia biográfica iniciada em 2020 com “Adicionar um lugar ausente”.
Mais tarde, às 22h00, é apresentado “Electra Goes to Techno”, de Xana Novais, que reinterpreta o mito clássico de Electra através de uma fisicalidade extrema e de estímulos sonoros vindos da música techno. “O espetáculo coloca um corpo em transe, submetido a choques elétricos e impulsos vibratórios, como metáfora de um renascimento físico e simbólico depois da paralisação pandémica”, explica a criadora. A obra reflete sobre a possibilidade de rescrever narrativas femininas clássicas através da energia e da exaustão do presente.
Na sexta-feira, 13 de junho, a programação prossegue às 17h00 na Sociedade Carlista, com “Phauna”, descrita como “uma demi-ópera eletrónica de experimentação, um concerto-performance tragicómico e quasi-erótico”. O projeto encena uma criatura trinária do planeta a tentar semear uma nova espécie na Terra, explorando mitologias híbridas e eco-futuristas. “É uma provocação ao subconsciente colectivo e à necessidade urgente da criação de novas mitologias”, descreve a equipa artística. Em palco, cruzam-se o sagrado e o profano, o artificial e o natural, numa proposta que desafia o binarismo e celebra a fluidez queer e pós-humana.
A fechar o evento, às 22h00 na XL Box, sobe ao palco “Lounge”, um dueto coreográfico que propõe o descanso como afirmação feminista e comunitária. “A peça é uma ode à lentidão e à presença, ao toque e à escuta mútua. Trabalhamos a ideia de descanso como gesto político e sensível”, explicam as intérpretes. A partir do conceito de Lapdance Invisível, a obra explora dinâmicas de intimidade, sensualidade e partilha num espaço de espera e acolhimento. Luz, som e corpo fundem-se para criar um ambiente onde “a promessa do descanso eterno” se entrelaça com o prazer da pausa.
A PT.25 prolonga-se até sábado com sessões reservadas a profissionais do sector, confirmando Montemor-o-Novo como um dos polos mais ativos da criação contemporânea em Portugal. Segundo a organização, “esta plataforma é também um espaço de encontro, de escuta e de risco — onde artistas, programadores e público se desafiam mutuamente a pensar novos modos de existir em palco e no mundo”.