De sexta a domingo, Beja revive “esplendor” do império romano

Beja prepara-se para regressar ao tempo do império romano. Durante três dias, desta sexta-feira a domingo, a cidade revive a imponência da Pax Julia com o Festival Beja Romana.

Iniciativa da Câmara de Beja e dos agrupamentos de escolas da cidades, a Beja Romana propõe um conjunto de iniciativas a realizar no centro histórico da cidade, da música aos cortejos, do mercado ao “museu vivo” ou às visitas pedagógicas.

“A grandeza e imponência de Pax Julia revive-se, durante três dias”assegura a autarquia, indicado que será na Praça da República, local onde se situava o fórum e onde estão identificados dois templos romanos, um dos quais, “o maior e mais monumental descoberto até hoje em território português”, que acontece o “grande bulício” desta recriação histórica.

Há dois mil anos já os mercados faziam parte da vida quotidiana das cidades, por isso, o “mercado romano” é um dos atrativos do programa, ali se encontrando produtos “baseados ou inspirados naqueles que existiam na época” e onde será possível “experimentar alguns pratos recriados, com base nos alimentos disponíveis naquele período”.
Outros momentos altos são os cortejos que percorrem o centro histórico, “numa verdadeira manifestação do esplendor da época romana”. Segundo a autarquia, este “é um momento aberto à participação de todos os que se pretendam juntar a esta festa”.

“Pela importância dos conteúdos que promove, pela dinâmica que desenvolve no âmbito educativo e pela experiência de excelência que proporciona aos seus participantes o Festival Beja Romana é um evento
de e para a comunidade escolar que se abre à população e a quem nos visita”, acrescenta a mesma fonte, indicando que este ano o tema escolhido para a iniciativa é “O Território e as Villae Romanas”.
Para esta sexta-feira, dia 17, às 10h30, está agendado o primeiro cortejo, que recria a receção ao cônsul romano pelos patrícios e plebeus da Hispânia pelas ruas do fórum, a que seguirão demonstrações de danças romanas e de técnicas militares, como a recriação de uma patrulha e demonstração de formações militares dos legionários (15h00), também no mercado (Praça da República).

Do programa, que poderá ser consultado nesta página, destaque ainda para a realização de oficinas (sobre escrita latina, tecelagem, olaria ou cozinha inspirada no livro de Apício) e para uma conferência (dia 18, 16h30) sobre “As Villae do Sul da Lusitânia”, que contará com a participação de André Carneiro (sobre a vila romana de Pisões), João Pedro Bernardes (Milreu) e Rafael Alfenim (São Cucufate). 

Conventus pacensis

Pax Julia era a capital de um dos três conventus iuridicus (circunscrições territoriais jurídico-administrativas em que se subdividiam as províncias) que existiam no atual território português, a única a sul do Tejo. Era a cidade com o estatuto administrativo e jurídico mais importante na região. Os vestígios arqueológicos encontrados por toda a cidade, particularmente abundantes no que se refere à cidade romana, confirmam a grandeza e imponência da cidade.

Entre os investigadores, prevalece o consenso de que entre os anos 31 e 15 a. C. à cidade terá sido atribuída o estatuto de colónia, garantindo-lhe prestígio e uma importância excecional na província da Lusitânia e na Hispania Romana. 

O comércio floresceu, e com esse florescimento muito terá beneficiado Pax Iulia, cidade no centro do sul da Lusitânia, uma província com capital em Mérida, e terra de bons barros que justificaram uma intensificação da exploração agrícola, como testemunham as abundantes villae cujos vestígios se encontram hoje dispersos pelo seu vasto território. Daqui exportava-se vinho, cereais, azeite, mas também muito minério, com os cursos fluviais, sobretudo o Guadiana e o Sado, a servirem de vias de expansão desta colónia romana, capital de conventus, para o vasto mundo Mediterrânico. 

Com a riqueza então gerada, e como ostentação do seu estatuto, Pax Iulia tornou-se uma cidade monumental. Os vestígios arqueológicos encontrados ao longo do tempo e as importantes escavações das últimas duas décadas no centro da cidade atual, colocando a descobertos vestígios de um fórum romano cujo templo principal é o maior descoberto até hoje em território português, contribuem para consolidar a ideia de Pax Julia como a mais importante cidade do sudoeste da Península Ibérica no período romano.

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