“É a possibilidade das pessoas se encontrarem e falarem mesmo sobre a morte, não é um grupo terapêutico, não é um grupo de apoio, é um lugar de encontro onde as pessoas podem falar sobre aquilo de que é tão importante falar e que se tornou tanto tabu na nossa sociedade”, conta Ana Sevinate, uma das organizadoras.
“Acho que é importante, para vivermos bem, trazer esta consciência da finitude e falar sobre aquilo que nos assusta, que é a morte, a nossa e a das pessoas de quem gostamos”, acrescenta Ana Sevinate, lembrando tratar-se de um tema muitas vezes considerado tabu. “Por isso”, sublinha, “é tão importante falar da morte em lugares onde as pessoas sintam que não são julgadas, que possam partilhar histórias”.
Criado com o objetivo de normalizar o tema e proporcionar um espaço seguro para a partilha de reflexões sobre o fim da vida, o Death Café reúne pessoas de diferentes origens em cafés, bibliotecas, centros comunitários e até mesmo online. Nestes encontros, não há palestras ou agendas predefinidas – o foco está na conversa espontânea.
O conceito foi inspirado no trabalho do sociólogo suíço Bernard Crettaz, que organizava encontros sobre a morte em cafés na Suíça no início dos anos 2000. No entanto, o movimento como o conhecemos hoje foi fundado em 2011 pelo britânico Jon Underwood, que se inspirou na ideia de Crettaz e a expandiu para um modelo acessível e replicável em várias partes do mundo. A partir da sua casa, em Londres, Underwood organizou o primeiro Death Café oficial, estabelecendo diretrizes simples para que outras pessoas pudessem criar os seus próprios encontros.
Desde então, o movimento cresceu exponencialmente, com milhares de eventos realizados em mais de 80 países. O Death Café não tem fins lucrativos nem vínculos religiosos, sendo sustentado pelo princípio de que falar sobre a morte pode ajudar as pessoas a viver de forma mais plena. A abordagem informal e sem julgamentos atrai aqueles que desejam refletir sobre a finitude da vida, compartilhar experiências ou simplesmente ouvir diferentes perspetivas. Ao criar um espaço para essas conversas, o Death Café contribui para desmistificar o medo da morte e encoraja um diálogo mais saudável sobre o tema.
Segundo revela, o Death Café pode ser organizado “por qualquer pessoa, em qualquer lugar” A ideia é “mobilizar recursos para dar apoio e trazer qualidade de vida a pessoas em fim de vida e às famílias”. De alguma forma, está ligado aos cuidados positivos, mas não só. É neste sentido de mobilizar recursos humanos, económicos, sociais para poder trazer qualidade de vida e dignidade às pessoas que têm doença crónica e que estão em fim de vida e às famílias.