No coração de Estremoz, onde o mármore branco resplandece sob o sol alentejano, uma história secular de paixões reais e vinhas ancestrais escreve hoje um novo capítulo na revolução mundial do vinho rosé. A Quinta do Carmo, nascida dos amores de D. João V por uma cortesã chamada Dona Maria, transformou-se no laboratório onde Sandra Gonçalves, enóloga da Dona Maria/Júlio Bastos, materializa as tendências que redefinem hoje o consumo global do vinho rosado, impulsionado pela chamada geração millennial (isto é, pessoas nascidas entre 1981 e 1996), que cresceu num período de rápidas mudanças tecnológicas, testemunhando a transição da era analógica para a digital.
Na Quinta do Carmo – hoje renomeada, no universo vínico, como “Dona Maria/Júlio Bastos” – este espírito reinventa-se com alma portuguesa. A propriedade é uma das mais belas quintas barrocas do país, com lagares de mármore centenários e vinhas que bebem na história da casta Alicante Bouschet, introduzida em Portugal pelos antepassados da família Reynolds no século XIX para dar uma cor retinta aos seus vinhos. Mas é também em tons rosados que hoje se escreve um novo capítulo desta quinta.
Durante muito tempo, o rosé era considerado um vinho menor – uma solução improvisada, fruto da sangria de mosto na produção de tintos. Mas os ventos mu- daram. A Provence ditou o tom – literal e estilístico – e o mundo seguiu-lhe o rastro cor-de-rosa: vinhos leves, elegantes, de cor pálida, com aromas florais e frescura vibrante. O rosé passou a ser pensado de raiz, desde a vinha ao copo, ganhando identi- dade própria.
Sandra Gonçalves, enóloga da casa desde o seu renascimento em 2003, descreve o Dona Maria Rosé como fruto de um processo meticuloso e cada vez mais técnico: “Mantemos o mesmo ‘blend’ desde 2007 – Aragonez e Touriga Nacional – mas o protagonista é sempre o ano da colheita. A vindima é decidida parcela a parcela, colhemos cedo para garantir acidez, e prensamos em prensa direta”, ajustando o tempo de contacto consoante a frescura e a maturação. O resultado é um rosé de cor muito clara, aromas de hortelã e rosas, com notas de fruta tropical e morangos frescos. Uma elegância que convida à esplanada, à mesa de sushi ou à conversa de fim de tarde.
Este cuidado reflete uma tendência mais ampla. A procura por rosés leves e gastronómicos tem aumentado em todo o mundo. Na Provença, 88% da produção já é dedicada ao rosé. Nos Estados Unidos, o consumo disparou e os consumidores pagam valores premium por garrafas de prestígio. Portugal, impulsionado por milhões de turistas e por uma nova geração de consumidores – urbanos, informados e sensíveis à estética e à sustentabilidade – assiste a um crescimento contínuo nesta categoria.
A geração millennial contribuiu decisivamente para esta viragem. Para estes consumidores, o rosé é mais que uma bebida: é lifestyle. A cor fotogénica, a frescura no paladar, a versatilidade gastronómica e a leveza alcoólica fazem do rosé o vinho ideal para o consumo informal, social e partilhável – especialmente nas redes sociais, onde hashtags como #drinkpink ou #roséallday se tornaram emblemas de uma nova estética do vinho.
Mas há mais do que aparência. A evolução qualitativa dos rosés, com maior exigência técnica, respeito pelo terroir e até capacidade de envelhecimento, como sublinha Sandra Gonçalves – “o nosso rosé pode ser bebido jovem, mas já o testámos com 10 anos” e surpreende pela complexidade – posiciona esta categoria num novo patamar. Provámos recentemente a última colheita de 2024 e a anterior, de 2023. São vinhos diferentes, mas de excelência, refletindo o ano agrícola: “O de 2023, ano de maturação mais quente; 2024, um ano de maturação mais fresco”.
Em contrapartida, o maior tempo de estágio em garrafa do 2023 mitigou a fruta fresca, mas acrescentou-lhe complexidade e sofisticação. Por isso, neste tipo de rosés, vale a pena dar-lhes mais algum tempo de garrafa para revelarem todos os seus atributos.
A revolução rosa está, pois, longe de ser uma moda passageira – e já chegou, com toda a elegância, ao Alentejo.

DONA MARIA ROSÉ 2023
Vinho Regional Alentejano Júlio Bastos
Castas: Aragonez e Touriga Nacional Apresenta uma cor rosa-claro, caracterís- tica dos rosés modernos, elaborados com uvas destinadas em exclusivo a rosés e com prensagem direta. No nariz, desta- cam-se aromas vegetais, hortelã e rosas. Na boca revela-se muito fresco, com maior cremosidade e complexidade, proporcio- nadas pelo estágio prolongado em garrafa.
12,5% vol. / PVP: 9,99 euros
DONA MARIA ROSÉ 2024
Vinho Regional Alentejano Júlio Bastos
Castas: Aragonez e Touriga Nacional
No nariz surgem apontamentos de fruta tropical. Na boca é equilibrado, com fres- cura e notas de fruta vermelha e tropical. Excelente rosé para quem aprecia vinhos com fruta jovem e vibrante. Mas, se pre- ferir um vinho com maior complexidade conferida pelo tempo, arrisque e guarde-o por mais um ano.
12,5% vol. / PVP: 9,99 euros











