Nascido em Montargil a 23 de setembro de 1938, pedagogo e filósofo, Manuel Ferreira Patrício foi “uma figura central” na história recente da Universidade de Évora (UE), “onde desempenhou um papel fundamental desde a refundação da instituição até à sua aposentação como reitor”, tendo ainda deixado uma “marca profunda na educação e na filosofia portuguesa”.
De acordo com a reitora da UE, a doação constitui “um passo importante para preservar a memória de um professor e intelectual que influenciou muitas gerações de estudantes e colegas” universitários. “A doação deste espólio é uma forma de garantir que o legado do professor Manuel Ferreira Patrício continue vivo. O facto de tantas pessoas ainda se lembrarem dele e dizerem que foram seus alunos é um dos maiores elogios que um professor pode receber”, sublinhou Hermínia Vilar, acrescentando que este acervo “permitirá não só preservar a memória do professor, mas também manter vivo o seu pensamento, contribuindo para a formação de futuras gerações de estudantes”.
“As instituições são feitas da memória de quem as construiu, e enquanto nos lembrarmos do que o professor Manuel Ferreira Patrício fez e representou, ele continuará a existir através das suas obras e ideias”, prosseguiu a reitora, garantindo ainda que a UE “se compromete a zelar pelo espólio do professor, garantindo que será utilizado e estudado pelas gerações vindouras”.
O espólio inclui livros, separatas, brochuras, revistas científicas, teses e outros trabalhos de grande relevância para o pensamento filosófico e pedagógico, em especial no contexto português, sendo que a doação “visa preservar e disseminar” o conhecimento deixado pelo antigo reitor, “contribuindo para o enriquecimento do património intelectual da Universidade de Évora e da sociedade em geral”.
A documentação será tratada pelo Centro de Investigação em Educação e Psicologia, cujo diretor, Luís Sebastião, ex-aluno de Manuel Ferreira Patrício, recordou, emocionado, um episódio em que o antigo professor “adaptou um espaço de serração para uma biblioteca, descrevendo-a como um paraíso”. Segundo Luís Sebastião, “a biblioteca é um símbolo da vida intelectual do professor, caracterizada pela reflexão e pelo pensamento português e ibérico”.
Em representação dos herdeiros, Maria da Conceição e José Luís Patrício reconheceram a importância do legado agora doado e “manifestaram o desejo de tornar as suas coleções acessíveis ao maior número de pessoas possível”.
Licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1966), doutorado em Ciências da Educação, especialidade Filosofia da Educação (1984) e agregado em Teoria da Educação e em Axiologia Educacional pela Universidade de Évora (1992), Manuel Ferreira Patrício foi reitor da UE entre 2002 e 2006, instituição onde foi docente desde 1976.
É autor de vasta obra nas áreas da pedagogia, da filosofia, da filosofia da educação, da cultura e da música. Fundou e dirigiu as revistas “Inovação” (1988-1999), “Escola Cultural” (1992-1994), e “Revué” (2004-2005) e dirigiu as revistas “Noesis” e “Educação e Liberdade” (1989-1990). Em abril de 1983, com um conjunto de estudantes da universidade, fundou o CORUÉ – Coro da Universidade de Évora. Foi seu diretor artístico/maestro até janeiro de 1987, altura em que foi nomeado para presidir ao Instituto de Inovação Educacional (Lisboa).