Eis Paulo Estevão, alentejano e monárquico no Governo dos Açores

Monárquico, secretário regional do Governo dos Açores responsável pelos assuntos parlamentares e comunidades, Paulo Estêvão nasceu em Serpa, estudou em Beja e em Évora, e fixou residência na ilha do Corvo. Sem nunca esquecer o Alentejo. Luís Godinho (texto) e Homem de Gouveia/Lusa (fotografia)

Paulo Estêvão que chegou ao arquipé- lago em 1995 para dar aulas de História. Monárquico, é dirigente nacional do PPM, foi deputado à Assembleia Regional dos Açores e integra o Governo liderado por José Manuel Bolieiro (PSD), assumindo a pasta dos assuntos parlamentares e comunidades.

De origens modestas – a mãe era cabeleireira, o pai vigiava as fronteiras enquanto cabo da Guarda Fiscal –, Paulo Estêvão nasceu em Serpa em 1968. Aos 10 anos foi estudar para o seminário de Beja, cidade onde fez o liceu. Concluído o ensino secundário seguiu para a Universidade de Évora, licenciando-se em História com o objetivo de ser professor.

As “muitas dificuldades de colocação” nas escolas de Portugal continental levaram-no a concorrer para os Açores, onde havia falta de docentes. Foi parar à ilha da Terceira, em 1995. Depois, a mulher, também ela professora e antiga colega de universidade, seguiu-lhe os passos. Passou pelo Pico. E no ano 2000 conseguiu, finalmente, um lugar no quadro de escola. Vive há mais de 20 anos na ilha do Corvo.

“Não tive quaisquer dificuldades de adap- tação. É uma ilha com características muito especiais porque tem poucos habitantes, todos se conhecem e ainda há um grande conjunto de atividades comunitárias, não só nas festas, como acontece no Alentejo, mas até em tarefas relacionadas com a agricultura. Por vezes chego a casa e tenho à porta um saco de batatas ou de laranjas e só passados alguns meses é que venho a saber quem as ofereceu. É uma sociedade muito semelhante àquela em que eu cresci nas décadas de 60 e de 70, quando havia uma interação social muito grande”, conta Paulo Estêvão, que faz questão de regressar com frequência às origens, a Serpa.

Não é de estranhar que seja o único alentejano residente no Corvo, ilha onde vive com a mulher e os dois filhos. Por ali todos o conhecem. E o facto de ser monárquico valeu-lhe uma alcunha, “o rei”, bastante utilizada quando pelo meio surge uma partida de cartas: “Quando sai um rei até dizem, por graça, olha um ‘Estêvão’ de copas, ou de ouros, e dizem-no mesmo na minha presença”.

Não sendo rei, foi presidente nacional do Partido Popular Monárquico entre 2010 e 2017, sucedendo a Nuno da Câmara Pereira, após ser ter zangado com Paulo Portas e abandonado o CDS. Foi o único deputado monárquico eleito para a Assembleia Regional dos Açores.

Não foi fácil lá chegar. Primeiro teve de organizar o partido na região. Depois apresentou-se a votos e somou derrotas nas eleições de 2000 e 2004. Em 2008 entra, finalmente, ao Parlamento, empenhando-se desde então em fazer a “vida negra” ao Governo regional de maioria socialista. Só de uma assentada foram 12 dias em greve de fome.

“Fui presidente do conselho executivo da escola do Corvo entre 2000 e 2008. A escola tem poucos alunos, menos de 60, mas eram os únicos no País que não tinham acesso a refeições escolares. Apresentei várias iniciativas para corrigir essa injustiça, sempre com a oposição do PS. A única solução foi mesmo fazer greve de fome e a verdade é que, neste momento, os alunos do Corvo já têm refeições escolares e já foi aprovada outra iniciativa para alargar essas refeições ao pessoal docente e não docente”, conta Paulo Estêvão, recordando que mesmo depois de o parlamento ter aprovado a abertura da cantina o projeto tardava em concretizar-se.

Foi por essa altura que ao ver o filme “Três Cartazes à Beira da Estrada”, vencedor de dois Óscares, teve uma outra ideia arrojada: “Vá de colocar cartazes à beira da estrada a dizer que o Vasco Cordeiro [então presidente do governo regional] era o responsável pelo facto de as crianças no Corvo não terem refeições na escola. A vida política nos arquipélagos é muito difícil. A Madeira é governada pelo mesmo partido desde 1976. E nos Açores só tivemos uma mudança de governo, em 1996. São partidos que dominam a administração regional e as empresas públicas e, por isso, a alternância política é muito mais difícil”.

Com responsabilidades políticas nos Açores desde 2008, Paulo Estêvão diz ter “evoluído” na sua posição relativamente à regionalização: “No referendo de 1998 votei contra, mas agora votaria a favor. Não estou a ver outra forma de desenvolver uma região como o Alentejo sem a existência de regiões administrativas. É necessário que se tenha poder político para atrair investimento”.

Quando vai a Serpa, e cruza as estradas da região, não deixa de se indignar com o que diz ser o “abandono” do poder central – “As estradas estão uma lástima e os centros urbanos muito degradados” – nem com a proliferação de culturas intensivas. “Fosse eu deputado e cada plantação nova teria merecido um requerimento a perguntar quem foi o responsável que autorizou e quem financiou”.

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