Envelhecer sem silêncio: Festival de teatro comunitário chega a Évora

Entre os dias 12 e 14 de junho de 2025, o Salão Central de Évora acolhe o Festival Internacional de Teatro Comunitário “Age Against the Machine”, uma iniciativa que une arte, intervenção social e cidadania. Com entrada livre, o evento propõe uma reflexão intergeracional sobre o envelhecimento, os direitos das pessoas idosas e as discriminações que enfrentam, através de cinco criações teatrais de companhias europeias.

O festival é promovido pela Universidade de Évora, através do Centro de História da Arte e Investigação Artística e pela Câmara Municipal de Évora, com a colaboração do Artéria Lab e do Departamento de Artes Cénicas da Escola de Artes da Universidade de Évora. Conta ainda com diversos parceiros locais e internacionais, como a Pédexumbo, a Sociedade Harmonia Eborense, a Ashrama Évora e a Novi Sad Capital of Culture Foundation (Sérvia).

Com encenações que cruzam fronteiras e gerações, a iniciativa pretende “promover o debate intergeracional e a discussão a nível internacional para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos com idade avançada”, destacando-se ainda pela “visualização de práticas discriminatórias, a partilha de boas práticas relativas aos seus direitos e a sensibilização sobre a existência de preconceitos relacionados à idade”, segundo a organização.

Cada espetáculo é seguido por um debate de cerca de 20 a 25 minutos com o público, numa lógica participativa que procura fomentar o diálogo direto e crítico sobre os temas abordados.

A abertura do festival acontece no dia 12 de junho, às 21h30, com a peça “Velhas? Quem disse? Ainda aqui estamos!”, uma performance de 45 minutos que dá voz a diferentes gerações de mulheres. O espetáculo, dirigido por Isabel Bezelga, Ana Maria Malta e Anabela Monteiro, resulta de um projeto comunitário intergeracional de seis meses, desenvolvido entre a Universidade de Évora e a Câmara Municipal, com a participação de cidadãos seniores residentes na cidade e estudantes de artes visuais e performativas. A obra celebra a vulnerabilidade, a solidariedade e as trajetórias femininas, desconstruindo preconceitos sobre o envelhecimento.

No dia 13 de junho, pelas 18h00, sobe ao palco “A Solidão é um Monstro”, com encenação de Simon Beyer-Pedersen. A peça propõe uma exploração interativa do espaço urbano como ferramenta de combate à solidão contemporânea, transformando o quotidiano em território de aproximação humana.

Mais tarde, às 21h30, apresenta-se “À Espera da Chuva”, uma criação da companhia sérvia Trupa Drž ne Daj, que reflete sobre seis formas de discriminação etária, abordando situações de marginalização experienciadas por idosos. O elenco integra cidadãos de Novi Sad, com idades entre os 17 e os 78 anos, num exercício de responsabilidade social e solidariedade intergeracional. A direção artística é de Lazar Jovanov, Demir Mekić e Branka Bajić Jovanov.

A programação de dia 14 inicia-se às 16h00 com “Direitos Entrelaçados”, peça concebida por Gimmi Basilotta, que combina teatro de marionetas e música ao vivo para ilustrar os princípios da “Carta dos Direitos entre Gerações”. Com um elenco que vai dos 20 aos 69 anos, esta criação sem palavras aposta numa linguagem visual e sensível para revelar os silêncios e os diálogos possíveis entre diferentes faixas etárias.

O encerramento do festival dá-se às 18h00 com “Corpo”, uma performance concebida no âmbito do próprio projeto “Age Against the Machine”, com direção de Daniel Jacewicz e Dorota Porowska. Este espetáculo investiga a relação entre corpo, identidade e envelhecimento, questionando os limites da aparência e a normatividade associada à juventude. Resultado de um processo criativo intergeracional, “Corpo” é uma celebração da liberdade corporal e da resistência íntima que pulsa através do tempo.

Colaboração internacional

e envolvimento local

Todas as produções apresentadas no festival foram desenvolvidas através de processos criativos participativos, envolvendo profissionais e não profissionais, residentes locais, jovens adultos e cidadãos seniores. Este envolvimento comunitário reflete uma abordagem de coautoria e inclusão, característica do teatro comunitário.

Participam companhias como o Teatr Brama (Polónia), o Nordisk Teaterlaboratorium Odin Teatret (Dinamarca), o DispariTeatro (Itália) e o já referido grupo sérvio Trupa Drž ne Daj, além de produções resultantes de laboratórios realizados em Évora.

O festival constitui uma plataforma de intercâmbio artístico e humano, comprometida com uma cidadania ativa e informada. Através do teatro, o “Age Against the Machine” ambiciona transformar perceções e contribuir para sociedades mais justas, sensíveis à diversidade de experiências associadas ao envelhecimento.

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BRUNO HORTA SOARES
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