Iveta Frasco nasceu na Aldeia da Luz há 68 anos. “Na antiga aldeia”, gosta de dizer. Estudou em Fronteira, encontrou trabalho na Câmara de Mourão e por lá ficou durante 41 anos. A aposentação chegou mais cedo, ainda não 60, antecipada por força de ter de dar assistência à mãe, que se encontrava doente. O cante alentejano, esse, sempre fez parte da sua vida, ainda que de forma informal.
“Cantava assim, por exemplo, uma moda, uma canção quando se juntava um grupo ou numa ocasião dessas, mas nunca tinha feito parte de um grupo”. Nunca até outubro de 2022. Lembra Iveta Frasco que, por essa altura, o Vitorino, “ali de Redondo, vinha cantar aqui a Mourão e o grupo da Granjarte estava desfasado. Então, as moças da Granja conseguiram arranjar algumas colegas aqui de Mourão, já somos sete ou oito, elas outras tantas e, olhe, tomámos-lhe o gosto e lá estamos a fazer parte do grupo”.
O nome oficial é Granjarte – Grupo Feminino de Cantares Alentejanos de Granja. Reza a história que depois de alguns anos a animar o Carnaval, com danças que tinham versos da sua própria autoria, este grupo de mulheres começou também a cantar fora de “brincadeiras. Foi então que a determinada altura foram convidadas a animar um serão na Casa do Alentejo, em Lisboa. Ficaram de tal forma “orgulhosas com o seu feito que”, com o apoio da Junta de freguesia da Granja e da Câmara de Mourão, começaram a juntar-se para ensaiar. O grupo ganhou vida.
“Sempre gostei do cante alentejano”, conta Iveta Frasco, revelando ter crescido com as modas tradicionais, desde logo porque o pai cantava – “fez parte do Grupo Coral de Mourão, na década de 70” -, tal como a mãe: “Ela nunca fez parte de nenhum grupo, nessa altura as mulheres não faziam parte dessas coisas, mas cantava. O Grupo onde o meu pai também acabou, pois os velhotes começaram a abalar”. Foi aí que lhe tomou o gosto. “Gostava de ir ouvir os grupos e, aqui em casa, o meu marido e os meus sogros também gostavam de cantar… quando havia um ajuntamento festivo a gente sempre acabava por cantar uma modinha alentejana”.
Uma “modinha” como o “Lírio Roso” – “essa sai sempre bem” – ou a “Cefeira”, que integram o repertório do Granjarte. Sobre a estreia em palco, nesse outubro de há dois anos, garante ter sido inesquecível: “Elas não tinham elementos suficientes para fazer um grupo, quer dizer, cada um canta com o que tem, mas eram poucas. Fizemos um grupo com 16 ou 17 mulheres, lá cantámos e o Vitorino adorou-nos”.
Iveta Frasco diz “não ter voz suficiente” para fazer de alto ou de ponto. Canta com a voz que Deus lhe deu, sem faltar aos ensaios: uma quarta-feira na Granja, outra em Mourão. “Ainda no fim de semana passado fomos cantar ao Menino a Ferreira do Alentejo, e antes tínhamos estado em São João do Estoril”. O repertório do Granjarte integra “clássicos” do cante alentejano, como “Quinta-feira da Ascensão”, “Alentejo és Nossa Terra”, “Gotinha de Água” ou “Erva Cidreira”. Ou “O Rouxinol”, o tema que cantaram com o tal músico “ali do Redondo”. Todos os anos, em dezembro, recebem na Granja grupos corais, nem todos femininos, para o cante ao Menino.
“Temos tido muita aceitação, somos convidadas muitas vezes a atuar, e a verdade é que até gostávamos que fosse um bocadinho mais. Mas, pronto, os grupos são muitos e tem de haver lugar para todos”, conta Iveta Frasco, orgulhosa da “aventura” em que se meteu: “Saímos, divertimo-nos e mostramos o que gostamos de fazer, é também uma forma de não estar sempre em casa. Era só trabalho-casa, depois surgiu o cante e tudo mudou”.
O cante e, já agora, os doces. Começou “por brincadeira”, a ajudar mulheres mais velhas, e tomou-lhe o gosto. “Pedem-me para fazer a encharcada, que é o ‘ex-libris’ de Mourão, o manjar, o bolo podre ou o bolo rançoso, tudo o que é o típico”, conclui.