O município de Grândola inaugurou este sábado um novo núcleo museológico, “interativo e imersivo”, que conta a história do poema escrito por José Afonso que se transformou em canção e, 10 anos depois, na senha do 25 de Abril. Esta viagem inédita no tempo é uma iniciativa da Câmara de Grândola no âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril.
Já imaginou poder recuar no tempo, sentar-se no escritório da Direção Geral da Segurança, pegar no telefone e ouvir o relatório redigido pelos agentes da PIDE que assistiram, no Coliseu de Lisboa, ao I Encontro da Canção Portuguesa, onde José Afonso cantou “Grândola, Vila Morena”, acompanhado por milhares de vozes? Ou ouvir o testemunho inédito de José Mário Branco sobre a gravação da canção em 1971? Ou recriar, num estúdio de gravação, a sua própria versão de “Grândola, Vila Morena” e partilhá-la nas redes sociais?
O novo núcleo museológico do Museu de Grândola percorre, passo a passo, com recurso a tecnologia interativa, a história de “Grândola, Vila Morena”, desde o primeiro encontro entre José Afonso e a Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense, em 1964, até aos dias de hoje. Segundo a autarquia, é composto por várias áreas de exposição, filmes e atividades interativas, um estúdio de gravação e um auditório que contam detalhadamente a história do poema-canção que ajudou a transformar Portugal numa democracia.
O novo espaço de história e cultura do município de Grândola apresenta ainda uma obra de arte original: uma fotografia de Patrick Ulmann, que capta José Mário Branco, José Afonso e Francisco Fanhais no momento em que ensaiam os passos da música icónica de Abril. Este registo fotográfico dá origem a um grande mural, da autoria de Mariana Santos, que aumenta à medida que se ouve o arrastar dos pés dos três cantores no saibro, tal como na canção. O novo núcleo está instalado no 1.º andar do edifício dos antigos Paços do Concelho – na praça D. Jorge em Grândola.
Mercedes Guerreiro e Jean Lemaitre registaram em livro a história de “Grândola, Vila Morena”. Tudo começou num concerto realizado em maio de 1964 na Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense, a “Música Velha”. A primeira parte coube a Carlos Paredes. Zeca Afonso, acompanhado por Rui Pato, fez a segunda parte, sabendo que ali se escondia “um ninho de progressistas, a maioria operários, entre os quais muitos comunistas clandestinos, que escolheram a cultura como arma política”.
“A 21 de maio, quatro dias depois do concerto, surge uma surpresa: José da Conceição recebe uma carta, escrita com tinta verde, de José Afonso, exprimindo toda a sua gratidão aos sócios de Música Velha. Como agradecimento, ele oferece um poema de três estrofes, que será lido, a 31 de maio, ao público reunido na associação: Grândola, Vila Morena/Terra da Fraternidade, onde o povo é quem mais ordena e há em cada rosto igualdade. Sete anos mais tarde, o poema tornar-se-á canção. Mais três anos e a canção dará início à Revolução”, assinalam os autores de “Grândola Vila Morena – A Canção da Liberdade”.