“Este Executivo entrou com contas certas e dinheiro em caixa. É esse o problema”

Primeira grande entrevista de Luís Mourinha, depois de anunciar a sua recandidatura à presidência da Câmara de Estremoz. Em outubro do próximo ano, Mourinha irá novamente a votos à frente de uma lista do Movimento Independente por Estremoz (MiETZ).Ana Luísa Delgado (texto) e Gonçalo Figueiredo (fotografia)

Na entrevista exclusiva à Alentejo Ilustrado/Brados do Alentejo, o ex-presidente não poupa nas críticas ao atual Executivo socialista. Diz que José Daniel Sádio “não merece estar no cargo” que ocupa e considera que “o problema deste Executivo é que entrou com contas certas e dinheiro em caixa”. Luís Mourinha revela ainda que o Museu de Arte Africana, anunciado por Joe Berardo para Estremoz, poderá, afinal, ir parar a Vila Viçosa. E não fecha a porta a acordos com outros partidos ou movimentos para as autárquicas do próximo ano.

Porque decidiu recandidatar-se à presidência da Câmara de Estremoz?

Vamos lá ver, cada vez que saía de casa encontrava sempre alguém a dizer que eu tinha de concorrer. Era todos os dias, sempre que saía havia pessoas a dizerem-me para concorrer, estivesse na rua ou no supermercado. Chegavam a dizer-me que estava obrigado a recandidatar-me, e aqui estou. A verdade é que não podia recusar, fugir a este encargo de me apresentar novamente a eleições. No fundo, ao anunciar esta recandidatura estou a dar resposta a todos aqueles que, sistematicamente, me diziam para avançar. E foram aqueles que votaram maioritariamente em mim durante todo este tempo, portanto, também tinha esse compromisso com as pessoas, não podia ficar impávido e sereno sentado no sofá a ver as coisas a correrem como estão no Município.

Como tem visto este mandato liderado pelo PS?

O José Daniel Sadio acusou-me de ter vendido um terreno, de ter feito um negócio sem que o dinheiro tivesse entrado na Câmara. Fumaça. Só por aí se vê a personalidade da pessoa. Um indivíduo que quer denegrir outro da forma como o fez não merece estar no cargo em que está.

Vamos então falar um pouco mais sobre esse processo… .

.. não, não, sobre isso temos um comunicado onde consta a posição do MiETZ.

O próprio Luís Mourinha perdeu o mandato por decisão judicial. Não acha que isso o pode prejudicar nas urnas?

Não acho. As pessoas sabem perfeitamente que a perda de mandato não fez sentido nenhum. Ficou provado em tribunal que a outra parte gastou dinheiro público para fins diferentes. E isso é crime. Eu nem sequer podia pagar porque a legislação é clara. O incumprimento do regulamento dá perda de mandato e eu cumpri o regulamento e não paguei. O processo ainda não está fechado totalmente porque continua [pendente] no Tribunal Administrativo e Fiscal de Beja, vai fazer 10 anos. A partir do momento em que o Tribunal Administrativo confirme que essa outra entidade tem de devolver o dinheiro, e que eu não podia pagar, o processo será reaberto. Estou à espera.

Achei curioso o comunicado do MiETZ onde diz que quer mudar “o fado” a Estremoz. Porquê o fado?

Eu até, de vez em quando, vou ao fado, há dois ou três artistas de que gosto, gosto dos fados lá de Coimbra… às vezes, convidam-me para ir assistir a determinados espetáculos, mas prefiro estar sossegado. O que é certo é que o fado em Estremoz foi o mais caro de todos os que a gente tem acompanhado, agora no espetáculo da Amália. Vamos ver nos sites dos municípios, todos pagam menos, e até me dizem que foi o mais fraco, quer dizer, foi o mais caro e o mais fraco. E é muito caro, é muito dinheiro. Repare, a própria FIAPE custou 640 mil euros. O conjunto de espetáculos mais de 100 mil. Há muita outra coisa que a Câmara tem que fazer e que deixa para trás… se formos aí ao pé dos Brados do Alentejo, à esquina do antigo Centro Cultural, está uma rutura de água há dois meses, vai-se a ver noutros sítios e encontramos buracos abertos há dois anos. Os objetivos prioritários não deveriam ser só aqueles. Não quer dizer que se acabe com o fado, mas tem de se gastar menos para se fazer outras coisas.

Falemos então de outras coisas, como a habitação e o abastecimento de água, que são prioridades para o concelho.

E são mesmo. Repare, houve o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) aprovado com o PS no Governo e na Câmara de Estremoz. Porque é que não se apostou em fazer uma nova barragem, a Barragem de Frei Joaquim? Já tinha condições para ser construída, havia milhões, “camionetas de dinheiro” do PRR, teria sido uma aposta fundamental para Estremoz, para assegurar o abastecimento no caso dos níveis freáticos baixarem e para a agricultura. Bom, eu nem sei se eles sabem o que é a Barragem de Frei Joaquim… agora, foi um prejuízo grande não aproveitar o PRR. Olhe, estive a falar há pouco tempo com o presidente da Câmara de Vila Viçosa….

Sobre este assunto?

Sobre um outro. Disse-me que a Fundação Berardo está a tratar de fazer o Museu de Arte Africana em Vila Viçosa. Estava para ser feito em Estremoz. Parece que a relação se perdeu, o senhor Berardo já nem pode ver a Câmara de Estremoz e, se calhar, o presidente da Câmara já nem pode ver o senhor Berardo. E, assim, os investimentos que estavam previstos para Estremoz, se calhar, vão para outras localidades e isso não pode suceder.

E em matéria de habitação?

Essa é outra das apostas que vamos tentar pôr no terreno, mas tem de ser com tato. Não podemos dar habitação a uns enquanto outros, com problemas idênticos, continuam sem casa. As pessoas têm de ter rendimentos para pagarem o mínimo possível, as ofertas não contam para nada. Quando as pessoas têm qualquer coisa de oferta, quando não lhes custa nada, não valorizam e estragam. Eu já fiz muita habitação, muita habitação social, mas as pessoas tinham de ter algum tipo de rendimentos e o Estado ajudava nas taxas de juro. É esse tipo habitação social que pretendo desenvolver, não fazer casas para este ou para aquele, isso não faz sentido. A obrigação do Estado é criar condições para que as pessoas tenham um mínimo de rendimentos, mas para isso têm de trabalhar.

A nova orgânica do Município também tem estado em debate.

Repare a quantidade de técnicos superiores que a Câmara passou a ter e ainda querem pôr mais. Daqui a pouco, 50% da receita da Câmara de Estremoz será para pagar aos funcionários. Isso não pode ser. A Câmara não deve ter mais de 30% de despesa com pessoal, para poder investir noutras áreas. O presidente atual diz que consegue enquadrar mais quatro chefes de divisão. Mas isso custa 150 mil euros por ano. E estes 150 mil euros dão, por exemplo, para reparar muitas ruturas que por aí há. Contratar mais quatro chefes de divisão não faz sentido nenhum. A máquina tem de trabalhar com o que existe, aliás, um mau trabalhador nunca está satisfeito com o que realmente tem, faltam sempre ferramentas. Penso que já terão entrado, no mínimo, 20 técnicos superiores, cada um custa quase três mil euros por mês. O problema deste Executivo é que entrou com contas certas e dinheiro em caixa. Isso é que é o problema.

Como avalia a relação do atual Executivo com os munícipes?
O atual presidente pressiona, tem a mania de telefonar às pessoas, basta uma pessoa dizer algo na internet, qualquer coisa com que não concorde. Basta assistir às reuniões de Câmara para se ver… há vereadores que pedem documentação e ele não dá, passam meses… aliás, o [deputado municipal] Luís Marino pediu documentação que só agora recebeu, passado mais de um ano. Vamos ter de passar a mandar para o Ministério Público para termos acesso a documentos que ele é obrigado a mostrar aos vereadores. É uma gestão monocromática, digamos assim. E depois há aí outras questões mais graves, mas isso não é tema para agora.

Para fechar: a sua candidatura pondera ir a eleições conjuntamente com outros movimentos, ou outros partidos?
Nada está ainda equacionado, mas isso está em aberto. Quer dizer, se houver estruturas ou partidos que queiram apoiar o MiETZ tudo isso será possível. Estamos abertos a qualquer proposta, depois logo se verá se tem interesse para as duas partes. É uma questão que está em aberto.

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