Estremoz: Bairros do Castelo e de Santiago, entre o esplendor e a degradação

Patente na Galeria Dom Dinis, em Estremoz, a exposição “Os Bairros do Castelo e de Santiago em Estremoz, um levanta- mento de Rui Pimentel” nasce da vontade do grupo Cidade - Cidadãos pela Defesa do Património de Estremoz de estudar a zona que constitui o núcleo de origem da cidade Para ver até 15 de setembro. Mariana Miguéns (texto e fotografia)

O levantamento arquitetónico é da autoria do arquiteto Rui Flunser Pimentel, um estudo que tem como principais objetivos dar a conhecer o vasto património que Estremoz possui, assim como chamar a atenção para o estado de degradação em que algum desse património se encontra.

“A zona que integra o núcleo de origem da cidade de Estremoz constitui um verdadeiro tesouro de urbanismo e arquitetura deste país. O Grupo Cidade luta pela preservação dos elementos patrimoniais do concelho, e não podia ficar indiferente à qualidade do núcleo ora estudado, como ao estado de degradação a que, em certos pontos, ele chegou”, diz Rui Pimentel.

“Qualidade do património”, acrescenta, “porque temos o núcleo central medieval da cidade bem preservado na sua organização à volta de uma praça, com todos os principais edifícios ainda mantidos, apesar das suas evoluções, com destaque para o Paço Real, com a sua torre de menagem, a igreja matriz, e os antigos paços do concelho. A que se juntam, já mais afastados, a prisão e a casa do Alcaide-Mor”, cuja adaptação a unidade turística continua envolta em polémica.

“Por outro lado, mantêm-se as antigas muralhas que cercam estes dois bairros, tanto as afonsinas do século XIII, como as da Guerra de Restauração, do século XVII, e vários outros equipamentos militares que nos remetem para a história da cidade, o paiol, a casa das fardas, os quartéis seiscentistas”, sintetiza o arquiteto, lembrando ainda “o grosso dos edifícios ocupados por habitação, com uma malha mais solta no caso do castelo, organizando-se à volta de um eixo central que vai da porta de Santarém à da Frandina; e com uma malha regular ortogonal no caso do bairro de Santiago, embora também aqui exista um eixo, a rua Direita, à volta do qual se estrutura o bairro”.

Rui Pimentel lamenta que o estado de conservação dos bairros “seja bastante mau” uma vez que “muitas casas estão arruinadas, muitas encontram-se desocupadas, outras não têm condições de salubridade e saneamento básico, e as populações vivem em grande parte em situação deplorável”. Por isso, “proteger e requalificar este património muito rico, mas também dar boas condições de habitabilidade” aos moradores são dois dos alertas deixados nesta exposição.

No decorrer da inauguração, realizada no passado dia 20 de julho, o arquiteto chama a atenção para várias plantas, com a datação de edifícios, indicação da altura e estado de conservação – dir-se-ia, nalguns casos, degradação – do edificado urbano e respetivas utilizações. Registo ainda para um breve apontamento sobre a história e a evolução de Estremoz, onde faz referência a alguns dos monumentos da cidade, como a torre de menagem ou a cadeia quinhentista, entre outros.

RUI PIMENTEL

Nascido em outubro de 1951, em Lisboa, e licenciado em arquitetura em 1975 pela Escola Superior Técnica Federal de Zurique, Rui Pimentel trabalhou no Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL) entre 1976 e 1980, nos ateliers dos arquitetos Frederico e Rafael Botelho. Criado na sequência do 25 de Abril, o programa tornou-se uma referência internacional em termos de participação popular em processos de desenho habitacional e urbano. Como arquiteto trabalhou em vários projetos, de edifícios habitacionais a espaços culturais e sociais, tendo também obra nos campos do design gráfico, cenografia para teatro, banda desenhada, ilustração, conceção de exposições, caricatura e cartoon, tendo publicado durante duas décadas em “O Jornal” e na revista “Visão”.

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