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Évora: Um bairro que deixou se o ser, e uma necrópole islâmica

Vestígios de um bairro, cujas construções iniciais remontam ao império romano, e de uma necrópole islâmica foram descobertos em Évora durante as obras de adaptação de um antigo convento a unidade hoteleira. Luís Godinho (texto)

O relatório preliminar é claro: em nenhum momento refere a descoberta de um bairro islâmico em Évora. Para a equipa de arqueólogos que acompanha os trabalhos de reabilitação do antigo Convento de Nossa Senhora do Carmo, onde será instalado um hotel, as estruturas encontradas “demonstram uma ocupação efetiva do local, enquanto área residencial e posteriormente conventual”, mas a cronologia indicada é outra, que começa num período bastante mais antigo que o do domínio islâmico.

De acordo com o relatório, o primeiro momento de ocupação deste espaço situar-se-á entre o final do século III e o início do IV, “com a edificação de um grande arruamento com residências de cariz doméstico dispostas em banda em ambos os lados da rua”. Apesar de se encontrar localizado “fora do perímetro” da muralha romana, na periferia de uma das portas principais, a de Moura, admite-se que “a cidade englobasse esta área, uma vez que a estrutura defensiva tardia reduz em muito o tamanho urbano original”.

O conjunto seria “lentamente anulado” ao longo de mais de 150 anos, contados a partir da construção do Paço dos Duques de Bragança no início do século XVI, tendo a construção do Paço representa- do uma “ação edificante de grande monta que implicou desde logo a desconstrução de algumas casas do bairro”.

Finalmente, a adaptação do Paço a casa conventual da Ordem do Carmo e a posterior construção da igreja e do convento (séculos XVII/XVIII) “implicaram o transporte e depósito de grandes aterros (…) que transformaram consideravelmente a morfologia do espaço, corrigindo o desnível do terreno e soterrando progressivamente um bairro e uma rua desta área especifica da cidade”.

O conjunto agora descoberto é composto por “sete habitações distintas articuladas em torno de um arruamento/construção que deve remontar à segunda metade do século XIV, eventualmente em momento imediatamente posterior à construção da muralha medieval”, refere o relatório, acrescentando que o arruamento “está preservado em cerca de 32 metros, com uma largura de 3,85 metros”.

O documento indica que se trataria de um arruamento “de importância secundária, paralelo ao importante eixo viário da antiga Rua da Mesquita”, que terá sido construído “no contexto da reestruturação urbana deste antigo arrabalde em momento contemporâneo à construção da Cerca Fernandina”, entre 1353 e 1366.

Numa segunda área foram identificadas estruturas e pavimentos em argamassas de cal, armários de parede, um poço escavado na rocha e uma “construção não doméstica”, provavelmente uma adega para armazenamento e venda de vinho, havendo referências históricas à existência de uma adega precisamente neste zona da cidade.

Aqui foram descobertos vestígios de “quatro quintais dispostos paralelamente e que podem ter servido habitações distintas”, bem como uma “necrópole de sepulturas escavadas na rocha”. O documento indica a existência de “dez sepulcros de forma ovalada”, sublinhando que “não foi possível atribuir qualquer tipo de cronologia ou uma associação a um determinado tipo de religião específica”.

Fonte contactada pela Alentejo Ilustrado indica, no entanto, que esta necrópole “poderá efetivamente remontar à Alta Idade Média, ou seja ao período islâmico”, acrescentando que a sua existência “está identificada há mais de 20 anos”.

Finalmente, numa terceira área de intervenção arqueológica, foram encontradas “estruturas recentes”, como muros, drenagens e canalizações de esgotos, bem como “um cunhal concebido em silhares graníticos superiormente aparelhados, que faz parte de uma edificação maior”, possivelmente uma “cripta funerária diretamente relacionada com os edifícios anexos (sacristia, cartório, etc.) da Igreja do Convento do Carmo”.

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