No centro histórico de Évora, existe um espaço cultural, ao lado da Igreja de São Francisco e da Capela dos Ossos, que passa despercebido a muita gente. Começou por se chamar Museu do Artesanato. Hoje é o Museu do Artesanato e do Design (MADE) e a explicação é simples. Há uns anos, este museu, que é pertença do Turismo do Alentejo, recebeu parte da coleção de peças do designer português Paulo Parra, ele próprio nascido em Évora, adotando a partir desse momento a sua designação atual.
Esta foi uma iniciativa meritória, pois em Évora, os visitantes e os habitantes locais merecem ter espaços culturais, que olhem o presente e futuro, e não apenas o longínquo passado, não obstante o natural interesse, de que se reveste.
Vem isto a propósito de uma exposição a ser inaugurada este mês de abril, com peças do citado designer, concebidas e executadas exclusivamente em cortiça. Na sua maioria à mão, na Azaruja, terra de corticeiros e transformadores deste material tão nobre, e tão nosso, alentejano.
Quando foi reabilitado, o museu passou a propor uma vasta exposição permanente, permitindo no seu centro, ter uma zona livre, destinada a mostras temporárias. E tem recebido várias de diferentes índoles. Desta feita, poderemos apreciar um conjunto homogéneo, na originalidade de propostas de cariz utilitário, utilizando como material a cortiça.
Sendo, a par disso, uma oportunidade para descobrirmos a visão holística de Paulo Parra, um artista designer de nível internacional, radicado em Lisboa, onde é professor associado com agregação na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa
Também há uns anos, o designer foi convidado pela Universidade de Évora a criar a licenciatura de comunicação e design industrial. O que fez e hoje recebe alunos vindos dos quatro cantos do país, estando a funcionar no pólo universitário da antiga Fábrica dos Leões.
No MADE podem ser observados inúmeros exemplos de artesanato alentejano. Porém, além disso, encontramos modelos feitos por artesãos seguindo protocolos com a Universidade de Évora, bem como peças vindas de vários concursos de design, promovidos pela instituição académica eborense. A par destas, estão em exposição permanente exemplares de antigos alunos ou de professores, bem como um valioso espólio da história do design industrial, ao nível internacional.
Segundo Paulo Parra, “Évora deveria adquirir novas valências. Porque a maioria do património é muito importante de facto, mas também é muito antigo. Seria fundamental para a cidade ter, também, uma presença e uma oferta cultural mais moderna e contemporânea”.
A exposição temporária a inaugurar em abril é composta por parte da coleção Design Natural, que propõe uma nova abordagem á cortiça, através de objetos multiusos, lúdicos e com referências à tradição nacional. Explora técnicas artesanais e novas potencialidades neste material e utiliza o design como uma metodologia que pode articular novos conteúdos em materiais tradicionais.
A Sela Portuguesa idealizada pelo designer, tornou-se um dos ícones que marcou nos anos 90, e deu o sinal de partida no interesse em utilizar a cortiça, como matéria-prima, em diversos objetos. A Sela Portuguesa continua em representação do país, através da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), em inúmeras exposições internacionais, pelo mundo fora, tais como a Primavera del Diseño (1999), Design Milan (2000), Biennale de Saint-Étienne (2002), Beijing Design Week (2015) e integrou o Pavilhão de Portugal da Expo de Saragoça de 2008.
“A Sela Portuguesa foi desenvolvida enquanto objeto a que se aplica novas funções – banco, encosto, mesa lateral e até mesmo brinquedo” explica Paulo Parra, assegurando que estará presente nesta mostra temporária – é, aliás, uma das fotografias que documenta este artigo. Entre o acervo que estará exposto poderá também ver puff’s, bancos, mesas, braseiras, centros de mesa, relógios, espelhos e cabides ou candeeiros que, “à imagem da Sela Portuguesa”, são produzidos manualmente em cortiça e couro, materiais naturais de grande tradição alentejana e nobreza.