A falta de médicos, a dificuldade em aceder a consultas de especialidade e a demora em conseguir fazer exames ou tratamentos são os principais motivos que levam os residentes de zonas raianas a procurar assistência médica em Espanha.
Quem reside em Elvas, por exemplo, desloca-se com frequência a Badajoz pelos mais variados motivos e as questões relacionadas com a saúde não são uma exceção, porque faltam médicos naquela região. Eurico Branca, residente naquela cidade raiana, revela ter subscrito para toda a família, quando a sua filha nasceu, há cerca de dois anos, um seguro de saúde em Portugal, podendo utilizá-lo em Espanha.
“Aqui ao lado [Badajoz] temos pediatras com todas as valências e vamos muito ao estrangeiro. Não tem a ver com a rapidez [facilidade em agendar consultas] é a questão de não existir [pediatras] na zona, a diferença é entre existir serviço e não haver serviço”, diz.
Para Eurico Branca, é um “privilégio” viver ao lado de Espanha e poder utilizar um seguro com uma apólice que inclui a extensão ao estrangeiro. “Mas, independentemente do seguro, eu ia sempre a Espanha, naturalmente”, sublinha.
Com médicos a menos nos cuidados de saúde primários, alguns municípios têm vindo a adotar medidas de incentivo à fixação daqueles profissionais de saúde, algumas com sucesso.
Em Gavião, por exemplo, foi a inadaptação ao interior que levou à saída da única médica em serviço a tempo inteiro no Centro de Saúde local, revela o presidente do município, José Pio. Apesar dos apoios municipais em habitação e pagamento de despesas, os médicos que têm passado por Gavião não se fixam, preferindo locais onde possam fazer mais serviços, nomeadamente em clínicas ou hospitais.
“Neste momento, temos zero [médicos a tempo inteiro], temos um médico a fazer 20 horas e que está aposentado e dois médicos contratados, com prestação de serviços ao centro de saúde. As extensões é que ficam mais a descoberto”, lamenta.
Mais a sul, em Reguengos de Monsaraz, o panorama é agora mais risonho, devido aos incentivos camarários, tendo, em quatro anos, o número de médicos aumentado de dois para sete, um deles a meio tempo.
A presidente desta autarquia do distrito de Évora, Marta Prates, especificou que o município paga um complemento salarial de 1.000 euros mensais e atribuiu ‘casas de função’ às famílias de três dos seis médicos que exercem a tempo inteiro, enquanto os restantes três recebem mais 250 euros para apoio nas despesas de deslocação ou arrendamento. O tema foi objeto de reportagem publicada em julho de 2024 na edição online da Alentejo Ilustrado.
Com apenas um médico durante a semana e outro aos fins de semana, a população de Barrancos tem de procurar alternativas quando não tem clínico e até recorre a Espanha, ali a dois passos. Inaugurado há pouco mais de 10 anos no edifício de uma antiga escola primária, o Centro de Saúde de Barrancos funciona apenas durante os dias de semana, das 08h30 às 17h30, com o médico cubano Diosdado Matias a assegurar consultas abertas e por marcação. Já aos fins de semana, devido à falta de médicos, o centro de saúde está fechado, mas um clínico espanhol, pago pela câmara municipal, presta serviço naquelas instalações em regime de consulta aberta.
Residente em Barrancos, Andrés Rodriguez, confessa à agência Lusa que esta “realidade é muito perturbadora”, por haver períodos do dia em que não há médico disponível no centro de saúde e, mesmo quando há, ser difícil conseguir uma consulta de urgência.
O morador, que é barbeiro na vila e tem nacionalidade portuguesa e espanhola, conta que quem precisa de uma consulta aberta tem de ir cedo para a porta do centro de saúde “para apanhar vez” e conseguir uma das senhas. “E, se as senhas disponíveis para o dia já estiverem esgotadas, a pessoa já não vai ser atendida”, relata, em dois dedos de conversa na ‘sala de visitas’ de Barrancos, a Praça da Liberdade.