Em poucas terras se justificará mais a realização de uma feira medieval do que em Avis. Esta vila do Norte Alentejo, as suas muralhas, o casco histórico e o Convento da Ordem de S. Bento de Avis são, por si só, o cenário ideal. Mas a história da dinastia que adotou o seu nome e os reis e rainhas a ela ligados, são uma inesgotável fonte de episódios que permitem a teatralização desses acontecimentos e que merecem ser vistos por quem lá se dirija até ao próximo domingo, 11 de maio.
Marta Alexandre, historiadora, explica que “aquilo que se pretende evidenciar, é o período em que a dinastia de Avis se cruza com a história da própria vila”. Estamos a falar do século XIV, mas a Ordem, que começou por ser uma milícia de freires responsáveis pela defesa de Évora, vem do século XII.
Este ano, diz a também responsável pelo Centro Interpretativo da Ordem de Avis, a organização quis “dar um enfoque diferenciador. A História tem sido, ao longo dos tempos, contada pelo prisma masculino. Ainda que estejamos a falar da dinastia de Avis quisemos fazer a abordagem pelo lado feminino, e daí que o tema escolhido para 2025 fosse as Rainhas de Avis: Filipa de Lencastre, Leonor de Aragão e Isabel de Avis ou de Lencastre”. Uma viagem ao passado que nos dá a conhecer três mulheres daquela que ficou conhecida como Ínclita Geração”, explica.
Assim, esta sexta-feira, o destaque irá para a Virtuosa Senhora, esposa de D. João I, os primeiros anos do casamento e as “alegrias e tristezas da maternidade em que Filipa de Lencastre educará a geração de Avis para os mais altos propósitos da nação, num período assolado por pestes e guerras”.
No sábado, será a vez de Leonor de Aragão, rainha com “sangue real” português, castelhano e aragonês, casada com D. Duarte – que viria a falecer precocemente – e regente do reino enquanto seu filho, Afonso V, não atingiu a maioridade.
“D. Duarte deixara-lhe uma pesada missão, atribuindo-lhe em testamento, a malfadada regência do reino até que o seu sucessor, D. Afonso, atingisse 14 anos. D. Leonor passou a assinar os atos régios com a expressão a triste Rainha cujo poder haveria de ser contestado pelo cunhado D. Pedro e por um reino que nunca a compreendeu até à sua fuga para o exílio e morte em Toledo, onde falece em 1445”, explica Marta Alexandre.
O último dia será dedicado a Isabel de Avis, de Portugal ou de Lencastre, que fecha a trilogia, e “ao papel da mulher rainha dividida entre a causa política que opunha o seu pai D. Pedro, Duque de Coimbra, e seu marido o rei D. Afonso V, culminando na célebre Batalha de Alfarrobeira com a morte do primeiro”.
E assim, dar-se-á a conhecer o papel determinante das rainhas, nomeadamente, quando “desenham o destino das nações ajudando a tecer, muitas vezes em segredo, as malhas do intrincado jogo político, onde a sedução, a tradição, o amor à família e um profundo sentido de estado, definem, sustentam e determinam a manutenção e legado de uma dinastia que fez a transição do período medieval para o moderno”.
Nuno Silva, presidente da Câmara Municipal, recorda que este evento “já faz parte da história do concelho e integra-se numa estratégia de afirmação de Avis na oferta turística e cultural nacional. O autarca lembra, ainda, outras iniciativas como a Feira Franca, no verão, ou Avis tem Sabor, no outono, que a par da oferta de vinhos das adegas locais e da oferta turística na Albufeira do Maranhão, contribuem “decididamente para o desevolvimento” do concelho.
Para além da história, a Feira Medieval e Ibérica de Avis, terá uma oferta diversificada de artesanato, bebidas e comidas, bem como de animação musical que, este ano, contará, entre outros com o Grupo de Bombos Mestre de Avis e do Coro da Escola de Música local. Haverá também, nos claustros do convento, um espaço dedicado aos mais novos, com leitura de contos e outras atividades.
