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Fernando Santos Graça: Viagem pelos jogos tradicionais alentejanos

Fernando Santos Graça está de regresso aos temas da cultura local e regional, que tanto o apaixonam. Depois de escrever sobre as lendas alentejanas, volta ao território para compilar em livro os jogos tradicionais que aqui animaram muitas gerações. Júlia Serrão (texto)

Os brinquedos e as brincadeiras, os jogos tradicionais e as suas práticas, os jogos de rua, as cartas e as suas origens, os jogos de salão… mas também os jogos de tabuleiro, a componente pedagógica e os jogos didáticos, jogos infantis para crianças, e os torneios e as iniciativas. Nove capítulos de um livro, descritos por esta mesma ordem, que é um levantamento dos jogos e brincadeiras que animaram muitas gerações de crianças, adolescentes e adultos do Alentejo ao longo décadas: nas casas, nas ruas e nas coletividades. Alguns deles resistem na memória e na prática, outros, a maioria, são apenas registos.

O autor do livro Jogos Tradicionais do Alentejo Histórias e Memórias é Fernando Santos Graça, que há anos reuniu as Lendas Alentejanas em livro com o mesmo nome, e que se seguiram às narrativas fantasiosas do Algarve. Desta vez o algarvio com ligações ao Alentejo por casamento – a esposa tem raízes em Almodôvar – escolheu o território alentejano para este tema inédito. A edição de autor conta com o apoio da Comissão Intermunicipal do Alto Alentejo e da Associação de Jogos Tradicionais do distrito de Portalegre.

É o próprio Fernando Santos Graça que explica como surgiu a ideia de tratar este tema em livro: “Sou um apaixonado pela cultura local e regional, de tudo o que tem a ver com as nossas tradições. Nasci no campo, vivi no campo, e pratiquei jogos tradicionais. Dentro deste espírito e já com outros trabalhos realizados sobre aspetos da cultura, os jogos tradicionais assentavam dentro dos parâmetros”.

As pesquisas que fez permitiram-lhe verificar que não havia nada escrito num só livro, sendo que o tema surgia “esporadicamente” em diferentes publicações, analisado entre outra temáticas. Partiu do seu próprio centro de documentação e biblioteca para recolher o material que o ajuda a contar a história – e as memórias – dos jogos tradicionais com pronúncia(s) alentejana(s).

“Sou colecionador de algumas publicações, praticamente de tudo o que tem a ver com as tradições. Tenho muita coisa em arquivo pessoal que me permite desenvolver muitos trabalhos. Foi assim com o tema das lendas e também com os jogos tradicionais”, observa.

Para escrever este livro contou também com a ajuda de algumas autarquias que lhe forneceram elementos sobre jogos tradicionais, em forma de “livros e outras publicações”, sendo que outras não responderam “em tempo útil”. Paralelamente, fez uma recolha na impressa regional ao longo dos tempos, que lhe foi muito profícua em matéria de notícias sobre torneios.

O autor diz que há muita uniformidade nos jogos tradicionais na região. Sobretudo no que respeita ao jogo da malha, em que o objetivo é acertar com a malha, uma espécie de “bolacha” de ferro, num pino, normalmente de madeira, e que se realiza com dois ou mais jogadores. Está presente em todos con- celhos alentejanos, sendo que em alguns com mais intensidade no âmbito de torneios. “Por exemplo, no distrito de Portalegre há muitos torneios através da Associação de Jogos Tradicionais, e até campeonatos entre os vários concelhos”. Nota que o jogo “está muito enraizado nas tradições do povo alentejano”.

Quando o tópico são os jogos e as brincadeiras que distraíram e ajudarem gerações de crianças a desenvolver competências criativas e motoras, é impossível evitar o tema na ordem do dia que é o facto das crianças hoje não brincarem. O professor universitário Carlos Neto, especialista na importância da brincadeira e do jogo para crianças, fala “numa geração quase analfabeta do ponto de vista motor”: meninos de quatro anos que ao fim de 10 minutos de brincadeira dizem já estar cansados, e de cinco ou seis anos que não sabem saltar ao pé-coxinho, chamando a atenção para a urgência de brincar e ser ativo.

Fernando Santos Graça faz algumas referências nesse sentido. Citando os estudos científicos escreve: “os jogos tradicionais e as brincadeiras constituem um veículo de excelência e uma atividade extraordinariamente rica para o desenvolvimento integral e psicomotor das crianças. Hoje, no tempo de tão grandes mudanças sociais (…) importa ensinar às crianças a arte de brincar, e aprender a viver as brincadeiras”.

O autor de Jogos Tradicionais do Alentejo espera chegar aos pais e aos filhos com este livro, que pode também ser um precioso manual de brincadeira. Está lá tudo – como se joga, material necessário, quando é o caso, o objetivo do jogo e, claro, onde se jogava – num enquadramento histórico dos brinquedos.

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