Patente na sala de exposições temporárias do Panteão Nacional, a exposição integra-se nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril. “Nas fotos de Fausto Giaccone, a Revolução portuguesa mostra-se com uma imensa bandeira vermelha e mulheres de chapéu colorido, num atrelado de trator engalanado, nos dias de agosto de 1975, a caminho das ocupações de terras, no processo de Reforma Agrária que se esboçou”, resume Paula Godinho, num texto para o catálogo desta exposição, ainda em fase de conclusão.
“Os rostos, as massas e as paisagens retratados pela sua objetiva implicavam a ideia de que todas as relações económicas e de poder, por mais seculares que sejam, são um facto humano que pode ser modificado pelo homem”, acrescenta o diretor do Instituto Italiano de Cultura, Stefano Scaramuzzino.
Segundo o mesmo responsável, estas imagens “hoje como ontem, tocam as cordas de Itália porque nelas nos espelhamos, reconhecendo a nossa história cultural e política”, onde se inclui “o ecossistema de uma Sardenha que já não existe, o alento ideal de Carlo Pisacane e dos Irmãos Bandiera, um final feliz para o conto Libertà de Giuseppe Verga e para o massacre de Portella della Ginestra, o desejo sonhado no final do Calderón de Pasolini, os enredos surpreendentes de La Storia de Elsa Morante”.
Trata-se de uma narrativa que o fotógrafo subscreve. “Perdi o 25 de Abril porque estava fora da Europa, mas em agosto de 1975, estando a trabalhar para vários jornais de esquerda como Il Manifesto, não adiei mais a vinda a Portugal. Em boa hora, porque era o final da festa iniciada a 25 de Abril”, diz, em entrevista ao Diário de Notícias.
Ao chegar a Portugal, acrescenta, sentiu a necessidade de “fotografar algo mais pessoal”, uma vez que em Lisboa se encontravam “demasiados” fotógrafos. “Foi então que ouvi falar da ocupação dos latifúndios no Alentejo e Ribatejo, que era um tema que me fascinava desde sempre porque sou siciliano. Este é um tema crucial na História contemporânea na Sicília, onde cresci, mas também na Calábria e Puglia”.
Nascido em Palermo e residente em Milão, Fausto Giacconeé um dos mais famosos fotojornalistas italianos, com uma carreira de quase 40 anos, e grandes reportagens feitas um pouco por todo o mundo. A 31 de agosto de 1975 acompanhou uma jornada de ocupação de latifúndios na aldeia ribatejana do Couço. Desse dia fica um testemunho fotográfico que nos revela todo o “dinamismo e alegria” vivida pelos trabalhadores rurais.
Onze anos regressou à aldeia, trazendo consigo as fotografias daquele dia especial em busca dos participantes da jornada de 75. Foi um encontro surpresa do qual resultou um novo registo fotográfico, em que aqueles que surgem nas fotografias de anos antes se reencontram com a sua memória/memória colectiva da aldeia.
Em 2005, Fausto Giaccone visita pela terceira vez o Couço no âmbito de uma reportagem para o jornal Diário, um semanário italiano, que destaca os 30 anos da Reforma Agrária portuguesa. O portfolio “A Reforma Agrária no Couço- Reencontro com uma História Portuguesa” é uma viagem feita por um momento marcante da história portuguesa e o seu reencontro com os habitantes do Couço. É também o traçar da história da Reforma Agrária no Couço e do impacto que teve na vida da população, um olhar para o tempo volvido, uma partilha de memórias entre gerações, de sonhos, e uma reflexão das dúvidas e dos desejos que se lançam ao tempo presente/futuro.