Futebol: Pedro Ramalho ascende ao topo da arbitragem nacional

Ao fim de 17 anos dedicados à arbitragem, Pedro Ramalho foi não só promovido à primeira categoria da arbitragem nacional, como terminou a época classificado como o melhor árbitro da II Liga. Na próxima temporada estará no palco das grandes decisões. Ana Luísa Delgado (texto)

Como é que descobriu a sua vocação para a arbitragem?

Em 2007, tinha 19 anos, estava a estudar na Universidade de Évora e vi que estava aberto um curso para candidatos a árbitros. Como sempre estive no desporto e joguei futebol, aqui na minha terra, até aos juniores, decidi inscrever-me. Foi assim que tudo começou, não tinha amigos árbitros na altura, não tinha ninguém da família que estivesse ligado à arbitragem… foi mesmo por minha iniciativa que decidi tirar o curso. E não é que resultou?

Chegou, portanto, a ser futebolista?

Na Juventude Desportiva da Terrugem. Embora seja natural do distrito de Portalegre, sou filiado na Associação de Futebol de Évora, pois foi aí que tirei o curso.

Lembra-se do seu primeiro jogo como árbitro?

Foi como assistente… o primeiro jogo de todos que fiz, na arbitragem, foi em Viana do Alentejo, com o Calipolense, fui assistente do árbitro João Letras, que se retirou este ano. Como árbitro foi no Rosário, uma aldeia perto de Alandroal, foi esse o meu primeiro jogo como árbitro de seniores.

E como é que correu?

Não correu mal, obviamente que foi a primeira vez, tinha aquele nervoso miudinho, também alguma pressão, mas os jogos também não foram difíceis e o acompanhamento foi muito bom, o que torna sempre as coisas mais fáceis.

Como é que soube que tinha sido promovido à primeira categoria?

Temos noção de como é que os nossos jogos correm, mas nem tanto da dos nossos colegas árbitros, nunca sabemos se dará ou não para progredir na carreira… a pauta que reúne todos os elementos classificativos só é divulgada no final da época. Portanto, tinha noção que estava com muitas hipóteses de conseguir alcançar os três primeiros lugares, que dão acesso à I Liga, ficar em primeiro foi uma surpresa.

Quais são as expectativas para a próxima temporada?

Acima de tudo quero cimentar a minha presença na I Liga, demonstrar que podem contar comigo para jogos da I Liga pois já tenho 36 anos e a internacionalização será difícil. O que me passa mesmo pela cabeça é consolidar a minha presença na I Liga, adquirir cada vez mais experiência e transmitir confiança para quem nomeia para os jogos mais exigentes.

Como é que encara a possibilidade de arbitrar um dos grandes clássicos?

Tanto nesta época, como na anterior, estive nos chamados jogos grandes como quarto árbitro… já deu para sentir o pulsar de 40 ou 50 mil pessoas e perceber a envolvência do próprio jogo, da sua importância, da necessidade extrema de concentração pois a mínima distração é mesmo a morte do artista.

Numa tarefa que não é fácil, com muitos insultos…

Desde o futebol distrital que é muito raro que não haja insultos quando uma decisão seja contrária a uma equipa, e portanto as nossas bases vacinam-nos contra isso. Estamos concentrados na jogada, em tentar fazer uma boa gestão de emoções dos atletas, porque eles às vezes são levados também pelos impulsos tanto das bancadas como do próprio banco de suplentes. Tentamos ser parte da solução e não do problema.

É mais difícil chegar a esta patamar sendo alentejano?

Não há clubes do Alentejo na I Liga, nem na II, nem na III Liga… só por aí se consegue perceber a dificuldade de um árbitro alentejano em chegar aos patamares cimeiros. Não só pelo despovoamento, também por estarmos longe dos fatores de decisão e às vezes até temos qualidade, mas depois falta um bocadinho mais de apoio. Eu e o Luís Godinho, ambos da Associação de Futebol de Évora, estamos agora neste patamar. É mais difícil lá chegar, temos de trabalhar ainda mais, mas se o fizermos poderemos conseguir.

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