A mais recente candidatura, apresentada no início deste mês, é a das Fortalezas Abaluartadas da Raia, dinamizada pelos Municípios de Almeida, Marvão e Valença e que inclui fortalezas e baluartes ao longo da fronteira luso-espanhola, de Noudar (Barrancos) a Almeida.
De acordo com o presidente da Câmara de Marvão, Luís Vitorino, dado tratar-se de uma candidatura conjunta, pouco habitual, a primeira do género em Portugal, o processo “implicou um inovador e aturado trabalho de articulação entre os diferentes parceiros, resultando num aprofundado conhecimento dos valores patrimoniais em presença, ao longo dos cerca de 1.300 quilómetros da fronteira terrestre”.
Todo o procedimento da candidatura foi conduzido, coordenado e preparado em estreita colaboração com as comunidades locais, com equipas multidisciplinares de distintas competências e com a colaboração de investigadores e especialistas de várias instituições de ensino superior.
De acordo com os municípios envolvidos, o objeto da candidatura é “materialmente importante pela extensão e pelos exemplares que a enquadram, é composto pela cidade-quartel fronteiriça de Elvas (já classificada pela Unesco em 2012) e pelas fortificações abaluartadas de Almeida, Marvão e Valença”, considerando que o reconhecimento como Património da Humanidade vai potenciar o valor universal dos sítios candidatados e vai elevar o número e a qualidade dos afluxos turísticos que “procuram lugares distintos, únicos e de valor excecional”.
Para Luís Vitorino, o Castelo de Marvão e a Fortaleza são ex-libris na região, evidenciando a importância que a fortaleza teve na defesa da raia, nomeadamente dos castelhanos contra os lusitanos. “Atinge 100 mil visitantes por ano, o que é muito relevante para a economia local”, sustenta, frisando que “se o património for visto do ponto de vista económico também contribui para a produção de riqueza”.
A Costa Sudoeste alentejana, o complexo industrial de salga e conserva de peixe em Tróia, de origem romana, ou a vila de Mértola, são outros bens patrimoniais inscritos na lista indicativa da Unesco. A que se junta a candidatura do montado, enquanto paisagem cultural, e a de Vila Viçosa.
No caso do montado, a justificação do valor universal excecional, em que assenta a classificação pela Unesco, “assenta no reconhecimento da singularidade desta paisagem cultural moldada pelo homem, moldada pelo artesanato humano e preservada ao longo das gerações”.
“A simbiose singular entre os elementos vivos do montado reflecte-se também na forma e expressão da paisagem resultante, cujo valor estético é inegável”, refere a candidatura, acrescentando que os traços distintivos da paisagem “são a sua forma (profundidade e extensão); movimento (terreno ondulado marcado pelas silhuetas das copas das árvores de sobreiro e azinheira, como uma borda horizontal intermitente); cor (diversidade cromática e dinâmica); e luz (seja durante o dia, no contraste entre clareiras abertas e zonas sombreadas, ou à noite, na paisagem luminosa e vasta do céu estrelado)”.
Já a candidatura de Vila Viçosa foi entregue à Comissão Nacional da Unesco em janeiro deste ano. A Comissão Nacional da Unesco poderá agora fazer sugestões ou propor eventuais alterações. Foi nesta fase que um grupo de peritos emitiu dois pareceres negativos a um primeiro dossier de candidatura entregue em 2020. Pelo meio houve eleições autárquicas. A Câmara passou da CDU para “as mãos” do PSD. E o novo Executivo, liderado por Inácio Esperança, convidou Nuno Ribeiro Lopes para redesenhar todo o projeto.
“É uma nova candidatura. Não quero menosprezar o trabalho anterior, que teve mérito, sobretudo por se ter persistido na ideia de Património Mundial e conseguido a inclusão de Vila Viçosa na lista indicativa da Unesco. Na parte final as coisas não correram bem e a candidatura foi rejeitada, pelo que constituímos uma nova equipa e traçámos uma nova estratégia”, recorda Inácio Esperança, sublinhando que essa “viragem estratégica” se corporizou, desde logo, na entrada da Fundação da Casa de Bragança enquanto entidade pro- motora da candidatura.
“O nosso principal trunfo”, diz Nuno Ribeiro Lopes, “é a história de Vila Viçosa. Em primeiro lugar porque está profundamente associada à Casa de Bragança e, portanto, vamos contar a história da Casa de Bragança ao longo destes séculos. A candidatura não acaba no século XVI, vem até à atualidade e com várias componentes, incluindo a ligada ao culto Mariano”.