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Rui Arimateia: Centro de Recursos do Património Imaterial de Évora

O Centro de Recursos do Património Cultural Imaterial de Évora e a preservação da identidade do território. Rui Arimateia* (texto)

O Centro de Recursos do Património Cultural Imaterial do Município de Évora encontra-se sediado no espaço municipal do antigo Convento de N.a Sr.a dos Remédios. Construído após o ano de 2014, é o resultado de uma experiência em contexto laboral e emergente de um projeto europeu de grande envergadura – “Oralities”.

Foram parceiros nacionais e internacionais os municípios de Idanha-a-Nova e Mértola (Portugal); Ourense (Galiza/Espanha); Ravenna (Itália); Sliven (Bulgária) e Birgu (Malta), tendo a cidade de Évora assumido a liderança do projeto que decorreu entre os anos de 2009 e 2014.

Revendo-se no leitmotiv do “Oralities”, o Centro de Recursos agora em atividade tem vindo a possibilitar e a viabilizar a concretização de diversos projetos tendo em conta a sistematização, o registo, a preservação e a difusão dos saberes e saber-fazer tradicionais das populações. Deste modo, o Centro possui como objetivos estratégicos o desenvolvimento de ações concretas nas áreas e nas problemáticas do património cultural imaterial, privilegiando ações de intervenção inspiradas e centradas numa ótica de trabalho de laboratório e de experimentação.

Entre as principais ações e projetos a serem desenvolvidos inclui-se a promoção da recolha de materiais de diversos géneros orais (cancioneiros, romanceiros, contos, anedotas, lendas, adivinhas e outros textos e manifestações orais) oriundos de distintas culturas e sociedades; mas também na recolha das histórias de vida dos protagonistas das diferentes e diversificadas oralidades – o contador de contos, o músico, o construtor de instrumentos musicais, o artesão ou o artífice tradicional.

Inclui-se ainda, entre outros, a criação e desenvolvimento de uma base de dados sobre as temáticas da etnografia, antropologia e história local, tendo em vista a desocultação, a sistematização do registo de materiais, textos e saberes espalhados e esquecidos pelo território – nas memórias, nas bibliotecas ou nos jornais, por exemplo.

Procuraremos criar, em última análise, as condições para trabalhar, preservando, valorizando e devolvendo a cada comunidade os componentes identitários estruturantes que estabelecem uma ligação entre o passado e a contemporaneidade e que constituem formas privilegiadas para o aprofundamento do diálogo entre as diferentes comunidades olhadas numa perspetiva de aproximação e de identificação dos pontos em comum que, por sua vez, se traduzem em formas conjuntas de desenvolvimento.

UM PROJETO DE CONTINUIDADE

É importante referir que a jusante do Centro de Recursos encontra-se uma experiência técnica e profissional com mais de 30 anos de trabalho e de reflexão nas áreas do património cultural imaterial, direta e indiretamente ligada com o mundo dos museus, da intervenção cultural e das exposições. Como exemplo de experiências passadas que consideramos de grande interesse cultural refira-se a produção e implementação de projetos expositivos, tais como: “Tradições da Moagem” (1995); “Oralidades ao Encontro de Giacometti” (2011); “Centenário do Nascimento de Túlio Espanca” (2013); “O Conto Tradicional – Memória, Identidade, Partilha” (2014); “Brincas de Carnaval de Évora – Uma Manifestação do Património Cultural Imaterial” (2020-21), entre outras. Algumas destas exposições promoveram a edição de catálogos e ou de livros temáticos.

Contudo, e olhando para os orçamentos autárquicos destinados a estas áreas do património imaterial, para as quais os recursos são inquestionavelmente escassos, sempre foi necessário inventarmos novas formas de intervenção, nomeadamente no que respeita a projetos que implicassem a produção de exposições temáticas e de práticas em que a museografia teria uma palavra a dizer.

EXPOSIÇÕES VISITÁVEIS ATÉ DEZEMBRO DE 2023

“PARA QUE SERVE UM CENTRO DE RECURSOS DO PATRIMÓNIO CULTURAL IMATERIAL?”

Esta exposição compreende a reutilização de materiais anteriormente expostos sobre a apresentação da missão, dos objetivos e dos principais objetos de trabalho do Centro. Atentemos ao aspeto de estaleiro de obra de toda a estética da exposição que nos ajuda a refletir para que serve um Centro de Recursos. A palavra fundamental, isto é, a pedra fundamental, se quisermos comparar com a construção, por exemplo, da nossa catedral medieval, é a obra. Os obreiros iniciam a construção da catedral, da obra, e têm uma certeza: a de que não verão o término da mesma. Mas todos terão dado uma contribuição muito importante para a inauguração do edifício uns séculos mais tarde. Na conceção pessoal do obreiro será uma obra inacabada, a concluir num futuro mais ou mesmo longínquo e, por vezes, até mesmo utópico. Para nós, a obra é o património, e trabalhamos para a sua preservação, o seu estudo e a sua divulgação.

“MEMÓRIA DOS ERUDITOS DE ALÉM-TEJO”

No espaço do “Túnel da Memória” apresentaremos uma pequena biobibliografia, muito sumária, de alguns eruditos que marcaram definitivamente, com a sua palavra e a sua escrita, o território cultural do Alentejo: Florbela Espanca (poeta), J. A. Capela e Silva (etnógrafo e lexicógrafo), António Silva Godinho (jornalista e memorialista do teatro de amadores), Antunes da Silva (escritor), Carmen Balesteros (historiadora da cultura judaica sefardita), Gil do Monte (cronista), Joaquim Palminha Silva (historiador e jornalista), J. A. Pombinho Júnior (etnógrafo e lexicógrafo), Manuel Carvalho Moniz (etnógrafo e cronista), Maria Beatriz Serpa Branco (educadora), Diana de Liz (jornalista e cronista) e José Augusto Alegria (musicólogo).

Muitos outros eruditos estão prontos a serem desocultados e relembrados, não queremos nem podemos deixá-los cair no esquecimento e uma das vertentes do nosso trabalho passará por aí.

“HOMENAGEM A TÚLIO ESPANCA NOS 110 ANOS DO SEU NASCIMENTO”

Trata-se da reutilização de uma exposição monográfica sobre o historiador do Alentejo, Doutor Túlio Espanca, quando se assinalaram os 30 anos de falecimento (a 2 de maio) e os 110 de nascimento (a 8 de maio deste ano). Esta exposição apresenta uma sinopse da sua vida e obra em painéis evocativos e ainda em vitrines com as suas principais obras bibliográficas de referência – inventários, livros, guias, revistas, etc. –, assim como alguns objetos pessoais usados por Túlio Espanca, no seu dia-a-dia de investigador.

“DESENHOS SOBRE POEMAS DE ANTUNES DA SILVA”

Apresentação de 38 trabalhos com variadas técnicas utilizadas por alunos do 12º ano das turmas G e H da Escola Secundária Gabriel Pereira, realizados durante o ano letivo de 2021/22. Apresentamos um agradecimento às professoras Leonor Serpa Branco e Ana Teresa Sousa, responsáveis pela disciplina de Artes Visuais, assim como um agradecimento especial aos alunos, autores dos projetos que nos fazem melhor compreender o mundo imaginário de Antunes da Silva.

*Diretor do Centro de Recursos do Património Cultural Imaterial do Concelho de Évora

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