João Dias Coutinho: “A situação do vinho no Alentejo é dramática”

O porta-voz do Movimento Civil dos Agricultores, João Dias Coutinho, diz que a situação do sector vinícola no Alentejo “é dramática”, à semelhança de outras regiões do país e considera que o apoio de 15 milhões anunciado pelo Governo para a destilação é “manifestamente baixo”.

João Dias Coutinho, porta-voz do movimento de agricultores cujo protesto, em fevereiro deste ano, levou ao bloqueio de diversas estradas, de norte a sul do país, foi ao Parlamento alertar para a situação “dramática” que está a ser vivida pelos produtores de vinho.

“Nunca assistimos a uma situação tão dramática no sector, em que a aldrabice é de tal maneira permitida e não fiscalizada que dá um ar de impunidade total ao que se está a passar. Viemos aqui reclamar por justiça”, disse João Dias Coutinho, ouvido em audição na Comissão Parlamentar de Agricultura.

Em causa estão diversos fatores, da redução do consumo – “tem havido uma certa diabolização do vinho, os sectores mais progressistas que abundam nos meios urbanos decidem equipará-lo a uma droga, ao mesmo tempo que legalizam o consumo de canábis” – à importação de vinho a granel.

Conforme noticiado pela Alentejo Ilustrado, o aumento de stocks levou a Comissão Europeia a aprovar um apoio de 15 milhões de euros à destilação, referindo que os “desequilíbrios” no mercado, resultantes de “uma diminuição de vendas do vinho tinto, combinada com o aumento da produção do ano passado”, poderá transformar-se “numa crise prolongada e mais alargada”.

Para João Dias Coutinho trata- -se de um apoio “manifestamente baixo”, não representando para os agricultores alentejanos mais de 42 cêntimos por litro, “baseado na percentagem da produção do ano anterior”.

Por isso defende medidas mais “robustas”, apontando para a necessidade de “equacionar” medidas como a vindima em verde ou o arranque de vinhas. “O consumo nacional é inferior à produção, [arrancar] vinha que não é produtiva e que está a ser declarada como tal para entrar vinho e legalizá-lo, talvez fosse uma medida que as pessoas aceitariam”.

Sublinhando que os agricultores pedem “há anos” uma planificação agrícola, uma vez que “em culturas perenes, como a vinha ou o olival, as pessoas não podem mudar de um ano para o outro porque aquilo deixa de dar”, o porta-voz do Movimento Cívico dos Agricultores apelou ainda a um maior controlo. “Com produ- ções [de uva] baixas, não posso ter produções milagrosas dentro da adega”, resumiu.

Concordando que 15 milhões de apoio “é pouco”, Nuno Ferro, produtor na sub-região de Borba e também ele presente na Comissão Parlamentar de Agricultura, reconhece que desta vez “há um aspeto positivo em relação às destilações anteriores” uma vez que a ajuda exclui “os agentes económicos que importaram vinho” nas três campanhas anteriores.

Em todo o caso, lembra, “é uma medida que não beneficia os viticultores, apenas o espaço em adega. O viticultor produz uva e continua a vendê-la a baixa preço”.

“No Alentejo”, sublinha Nuno Ferro, “o preço da uva está igual ao de há 20 anos, mas desde então os fatores de produção subiram muito, nalguns casos até triplicaram”. Depois, “com estas aldrabices que por aí se fazem”, ou seja, a possibilidade de poder incorporar nas denominações de origem 15% de uva proveniente de outras regiões, “quem paga são os viticultores”.

Já Alexandre Sousa Pinto, também dirigente do movimento, disse aos deputados que “há operadores armazenistas a enriquecer à custa de importar vinho a 20 cêntimos”, defendendo a necessidade de “cruzar” as superfícies declaradas no Instituto da Vinha e do Vinho com as inscritas no parcelário. “O objetivo de ir buscar lá fora vinho barato é para baixar o preço médio aqui, é evidente, só que isso causa gran- des transtornos aos agricultores”, sublinhou.

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