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Jogo eleitoral

Com as legislativas no horizonte, partidos põem cartas na mesa. Com recurso à terminologia do póquer, eis o que estará em jogo nos distritos de Beja, Évora e Portalegre.

Luís Godinho (texto) e Elisabete Barradas (pintura)

PS COM ‘ROYAL STRAIGHT FLUSH” EM RISCO

Trata-se da mão mais forte do póquer, logo acontece pouquíssimas vezes. Desde 2019 que o PS elege seis dos oito deputados pelo Alentejo. Melhor é impossível. Assim, o objetivo do partido para as próximas legislativas será manter o mesmo número de deputados, ou conter as perdas. 

“Só os mandatos confiados ao PS conseguem refletir a confiança e a esperança na defesa dos interesses das pessoas e do nosso território”, defende Nelson Brito, cabeça-de-lista por Beja, segundo o qual o foco do futuro Governo terá de estar na “execução”. Ou seja, “é essencial que se perceba que a decisão política está tomada relativamente aos investimentos prioritários, contrariando as opções de tudo anular”. Segundo refere, a “execução das redes de mobilidade rodoviária, ferroviária e tecnológica é estruturante”, bem como o alargamento do perímetro de Alqueva ou a segunda fase do Hospital de Beja.

Em Évora, a lista do PS é liderada por Luís Dias, que parte para as eleições com o objetivo de manter os dois deputados conquistados, de forma folgada, em 2022. Já em Portalegre, Ricardo Pinheiro volta a ser cabeça-de-lista, convicto que os eleitores “vão reconhecer ao PS a dinâmica de investimento público” no Alto Alentejo, a nível da ferrovia, saúde ou Infraestruturas, como a Barragem do Pisão, financiada pelo PRR, ou a nova ponte internacional sobre o Tejo, em Nisa. “O desafio demográfico terá de ser a principal prioridade da região para os próximos anos”, diz Ricardo Pinheiro, defendendo a adoção de um “pacto para o desenvolvimento regional” que permita “dinamizar os territórios de baixa densidade”, com ligações mais rápidas aos grandes centros urbanos.

PSD PREPARA ‘ALL-IN’

No póquer, o ‘all in’ é a jogada onde se apostam todas as fichas. Será essa a intenção do PSD, que em 2019 perdeu os três deputados alentejanos, tendo recuperado em 2022 a representação pelo círculo de Évora. Sónia Ramos volta a ser a cabeça-de-lista neste círculo e diz estar esperançada “no reconhecimento” do trabalho realizado: “Temos levado ao Parlamento muitas questões estratégicas para o território, muitas propostas, nomeadamente em sede de Orçamento do Estado, que foram chumbadas pelo PS”. Entre as prioridades aponta, entre outras, a mobilidade, nomeadamente a conclusão do IP 2 e a reconstrução da Estrada 255, entre Borba e Vila Viçosa, a necessidade de “uma agenda política” focada na agricultura e a resolução dos problemas da habitação: “Évora não tem casas para vender e a revisão do PDM não traz qualquer esperança aos jovens que se queiram fixar no território”.

Em Portalegre avança Rogério Silva, presidente da distrital e da Câmara de Fronteira: “Não me posso conformar com uma governação de impostos máximos e serviços públicos mínimos (…) e que tornou a agricultura, a pecuária e o mundo rural reféns do radicalismo ambiental”.

Se o “jogo” social-democrata estará, por um lado, favorecido pelo facto de concorrer em aliança com o CDS, por outro lado poderá ser “prejudicado” pelo previsível crescimento dos partidos à sua direita. Para tentar recuperar o deputado por Beja, a Aliança Democrática vai a votos com uma lista liderada por Gonçalo Valente: “Creio que o distrito de Beja está disponível para dar um cartão vermelho ao PS pelo abandono a que temos sido votados”. A “ imigração descontrolada” é uma das suas preocupações, tal como a seca ou as acessibilidades.

‘RIVER’ DA CDU

Voltando novamente ao póquer, ‘river’ é a última carta comunitária da mesa. Uma carta decisiva para a “sorte” do jogo. Reduzido à expressão mínima de um deputado pelo Alentejo, as legislativas de março poderão ser vistas como a “última cartada” para o PCP reduzir a sua erosão eleitoral. Os objetivos são claros: manter o deputado por Beja e tentar recuperar a representação parlamentar em Évora.

Para isso avança a atual deputada (eleita por Lisboa) Alma Rivera. “O distrito tem sido muito abandonado por parte dos diferentes governos. Isso verifica-se nos transportes, com o desinvestimento da ferrovia, mas também nas vias de acesso, rodoviário. São problemas gritantes que atrasam desenvolvimento”, diz Alma Rivera, criticando ainda o desinvestimento nos serviços públicos – “não há garantia de serviços de qualidade” -, o que constitui mais um fator de despovoamento.

Em Beja, o atual deputado João Dias recandidata-se e dispara: “São oito deputados pelo Alentejo, mas aquele que fala do distrito, da região e que apresenta propostas é do PCP”. A exploração de “mão-de-obra barata” e a “pobreza envergonhada” que está a aumentar, são algumas das suas preocupações.

Num distrito, como Portalegre, que elege apenas dois deputados, a CDU ficou em 2022 na quarta posição. Recuperar o deputado não será tarefa fácil, embora a professora Fátima Dias, cabeça-de-lista em março, não atire a toalha ao chão: “Temos uma expectativa positiva devido ao desinteressa a que o nosso distrito tem sido votado nos mais diversos níveis”. Em causa, diz, está “o desinvestimento” público ao longo dos anos, causa para o despovoamento e falta de acessibilidades.

BLOCO TENTA ‘RAISE’

É um aumento do valor da aposta, colocar mais fichas na mesa de póquer. Em linguagem eleitoral: sem perspetivas de eleger deputados pelo Alentejo, o Bloco de Esquerda vai a jogo para tentar melhorar os resultados obtidos nas legislativas de 2022, por sinal francamente inferiores aos de 2019: em quatro anos perdeu mais de 9900 votos, cerca de 60% dos eleitores. Para os recuperar, avançam José Esteves, Manuel Canudo e Rui Sousa, respetivamente cabeças-de-lista por Beja, Évora e Portalegre.

“O PS está numa fase menos boa a nível nacional e não tem trabalho para apresentar na região pois não conseguiu concretizar o que tem prometido”, assegura José Esteves, confiante que o descontentamento resulte numa melhor votação para o Bloco. E depois, acusa, “os problemas da região têm vindo a agravar-se, como o trabalho escravo atraído por este modelo de desenvolvimento económico”. 

Em Évora, Manuel Canudo aponta outras preocupações, como a habitação: “Para muitos da minha geração, uma geração jovem, é completamente impossível encontrar casa em Évora”. Já o candidato por Portalegre, Rui Jorge Sousa, lamenta que o interior “esteja completamente esquecido a nível de transportes públicos” e diz “não ter medo” do resultado no distrito do país que menos deputados elege: “As pessoas já viram o que é ser governado por PS e PSD. Vamos a votos para conseguir melhores resultados e dar voz a uma esquerda com força”.

‘BAD BEAT’ DO CHEGA

O ‘bad beat’, diz quem joga póquer, é aquela “mão” que parece imbatível e acaba derrotada. No pré-eleições, o Chega diz ter a ambição de eleger deputados pelo Alentejo, acompanhando a evolução favorável das sondagens a nível nacional. A 10 de março ver-se-á se o objetivo será cumprido ou se não passou da tal ‘bad beat’.

A aposta mais “ambiciosa” será a de Henrique Freitas, secretário de Estado da Defesa no Governo de Durão Barroso, pelo círculo de Portalegre.  Já o ainda deputado eleito pelo PSD Rui Cristina irá encabeçar a lista por Évora, tendo recusado o quinto lugar que lhe tinha sido “oferecido” pelos social-democratas no círculo de Faro. “Sou candidato independente pelo Chega porque acredito no André [Ventura], acredito no projeto do Chega para o país”, disse Rui Cristina no recente “congresso eleitoral” do partido. Por Beja, o primeiro nome da lista será o da professora Diva Ribeiro.

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