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Jorge Araújo: “Alentejo em mosaico”

A opinião de Jorge Araújo, professor emérito da Universidade de Évora

No Alentejo encontramos extensos montados, muitas terras desnudas abandonadas pelos cereais, e paisagens verdes, riscadas, de regadio. Que futuro? Será o regresso do trigo face ao risco de falência do celeiro ucraniano? Será o montado, garante da resiliência às alterações climáticas, mas dependente de modelos de exploração que o rendibilizem? Será o regadio, que se expandiu no pós-Alqueva e invoca a seu favor a excelência dos seus produtos e a importância do seu contributo para a economia?

Sou pouco propenso a soluções únicas. Ao invés, adoro o petisco de um bom queijo do montado, com pão alentejano molhado em azeite, e um copo de vinho tinto: o mosaico alentejano à mesa!

O montado, há muito que se sabe que a sua viabilidade económica passa pela exploração em “uso múltiplo”, conjugando a cortiça com a pecuária, a agricultura e a paisagem, e com as indústrias daí decorrentes: carne, queijo, legumes e frutos, apicultura, turismo…

Diversos são os exemplos de boas explorações agropecuárias extensivas que vêm reabilitando o montado, mas o expoente de um novo conceito holístico que relaciona o homem com o alimento e a sua forma de produção, que demonstra a viabilidade económica e abre perspetivas para ser replicado, é protagonizado pela Herdade do Freixo do Meio, em Montemor-o-Novo.

Como os sucessos decorrem da clarividência e do empenho de pessoas concretas, não hesito em apontar um nome: Alfredo Cunhal Sendim, engenheiro zootécnico que se tornou, por formação académica e experiência de agricultor, um credível promotor da agroecologia.

O Alqueva veio alterar o paradigma agrícola e trazer bem-estar às populações. Novos regadios impuseram-se com a força do capital internacional e o apoio de tecnologias informáticas de controlo do uso da água e dos agroquímicos; mas com manifesto desrespeito ambiental. A reação não se fez esperar: os maiores crimes foram apontados ao olival e ao amendoal, acusados de delapidarem o solo, de poluírem o ambiente e de desrespeitarem os polinizadores e a restante fauna.

Perante poderosos interesses em jogo, a razoabilidade elegeu um aliado: os consumidores de todo o Mundo. Estes são cada vez mais exigentes e sensíveis à pegada ecológica dos produtos que adquirem.

O projeto de criação, pela Olivum – Associação Associação de Olivicultores e Lagares de Portugal de um selo de qualidade a figurar na embalagem, afigura-se poder vir a ser eficaz. Este selo atestará a sustentabilidade do modo de produção, mormente no que concerne ao respeito pelo ambiente.

Mas sim, o trigo tem nova oportunidade no Alentejo; mas não os trigos exóticos, que dão pães sem sabor, que secam ao fim do dia. O “pão alentejano” fabricado com trigos tradicionais, como o “barbela”, moídos em mós de pedra (que não aquecendo, preservam os sabores), e levedados com fermento natural (o isco), conquistam cota de mercado no país e constituem um produto de excelência que rima com Alentejo.

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