Não há democracia sem informação e sem contraditório; e estas são as funções sociais da comunicação social. A informação dá-nos o relato dos factos, a duas dimensões, no espaço e no tempo, enquanto o contraditório junta-lhe a terceira dimensão, na qual se alojam as versões, as interpretações e as análises.
Tal como o ovo, que podemos ver redondo ou oval consoante o ponto de observação, também a realidade é diversa segundo o ângulo pelo qual a analisamos. O contraditório tem o objetivo de fazer rodar a realidade diante dos nossos olhos e mostrar-nos como ela pode ser interpretada diferentemente. Depois… cabe a cada um escolher a versão que mais lhe agrada, aquela com que mais concorda; mas es- colhe sabendo que existem outras perspetivas. Esta é a essência da democracia.
Há um ano, a “Alentejo Ilustrado” resgatou do esquecimento coletivo um título de imprensa, antigo, e reforçou, junto da população, a oportunidade desta se informar sobre a sua região, em vertentes tão diversas como a cultura, o ambiente, a política, as atividades económicas, o passado e o futuro. O lançamento da revista traduziu-se, assim, num ganho para a democracia em Évora e no Alentejo. Aplaudi de pé, entusiasmado, e ofereci-me logo para colaborar, embora de jornalista só tenha genes do meu avô.
A Alentejo Ilustrado concluiu com brilhantismo o seu primeiro aniversário, oferecendo um excelente exemplo do que de melhor se pode fazer entre nós. Porém, nada pior do que seria uma soneca à sombra do chaparro!
Daí o desafio que aqui lhe lanço: acrescentar às duas dimensões da informação, a terceira, a do contraditório. Évora mergulha na versão única dos factos, em que são relatadas as ações, as inaugurações, as congratulações. Precisamos de ir mais longe, de conhecer as dinâmicas, os prós e os contra, e confrontá-los. Quatro exemplos para reflexão:
(1) Évora e Liepaja (na Letónia) foram eleitas para serem as capitais europeias da cultura em 2027. A pouco mais de dois anos da cerimónia de inauguração, como decorrem os preparativos, por cá e por lá? Vai tudo bem ou nem por isso?
(2) As centrais fotovoltaicas tendem a proliferar no Alentejo, invadindo a reserva agrícola, descaracterizando a paisagem, adiantando-se às ações de recuperação da natureza, que a lei impõe. Qual o argumentário a favor e contra?
(3) A alteração do Plano Diretor Municipal (PDM) de Évora entra no seu quarto ano de preparação. A proposta elaborada pela Câmara é vantajosa para Évora ou, pelo contrário, acarretaria uma perda significativa da área edificandi, isto é, a reserva de espaço para futura expansão habitacional?
(4) A Serra de Monfurado está, de novo, na mira das empresas mineiras, atraídas pelo ouro. A extração mineira traduzir-se-ia no desventrar da Serra, e no atentado irreversível à natureza, fragilmente protegida pela lei. Quais os argumentos a favor e contra? É urgente que a população seja informada e mobilizada, antes que as escavadoras rasguem a Serra.
Parabéns “Alentejo Ilustrado”! Muitos anos de vida.