Jorge Araújo: “Debate sobre cultura em Évora”

A opinião de Jorge Araújo, professor emérito da Universidade de Évora.

Por iniciativa da “Alentejo Ilustrado”, com a colaboração do Armazém 8, teve lugar, na ex-Direção Regional da Cultura, uma audição com os candidatos à presidência da Câmara Municipal de Évora, dedicada às propostas constantes dos respetivos programas eleitorais no domínio da cultura.

Trago este episódio à minha crónica porque constitui um exemplo notável de como a sociedade civil e, em particular, a comunicação social, pode — e deve — intervir no contexto das eleições, designadamente das autárquicas.

É sabido que os programas eleitorais são, em regra, textos bem redigidos, mas que pouco revelam sobre as verdadeiras intenções dos partidos — quando não as escamoteiam. Daí a importância de confrontar os candidatos com perguntas concretas e centradas em objetivos definidos. Foi o que aconteceu nesta sessão, moderada por Alexandre Barahona. As respostas dos sete candidatos presentes poderiam figurar num manual de jornalismo político, tantas são as nuances que revelam dos comportamentos habituais dos protagonistas: dos sérios aos menos sérios, dos livres aos condicionados, dos criativos aos repetidores.

Assistiu-se, assim, ao candidato que nada tinha a dizer sobre cultura e que nem sequer quis debater, limitando-se a permanecer no fundo da sala. Outro, pelo contrário, teve a honestidade de reconhecer desde o início que “a cultura não era a sua praia” — e, nesse caso, ficou tudo esclarecido. Houve também quem recorresse a um artifício simples: transferir a questão para os cidadãos — “os eborenses é que têm de dizer o que querem sobre cultura”.

Nem todos os candidatos falaram em nome próprio. Um deles apresentou-se , qual tribuno consagrado, mas com o guião ditado pelo partido, já gasto de outras batalhas eleitorais. Outro proferiu um discurso bem estruturado e apelativo, mas sem propostas de ação concretas: rico na forma, pobre nas propostas. Num outro caso, a retórica alimentada por lugares-comuns serviu apenas para preencher o tempo, sem arriscar nenhuma inovação mobilizadora.

Por fim, houve também quem apresentasse ideias claras e propostas consistentes: a edificação de um Pavilhão Multiusos, a criação, no Rossio de S. Brás, de uma grande estrutura para espetáculos ao ar livre, e a extensão do mandato da Associação Évora_27, de modo a assegurar a coordenação da atividade cultural na cidade e no Concelho para além do horizonte atual.

Na verdade, a resposta essencial é simples: não compete à Câmara substituir-se aos agentes culturais ou económicos, nem favorecer uns em detrimento de outros, mas sim criar as condições necessárias para que todos possam desenvolver os seus projetos em igualdade de circunstâncias.

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