Jorge Araújo: “O sol do Alentejo”

A opinião de Jorge Araújo (professor emérito da Universidade de Évora)

O sol do Alentejo é uma benesse, é energia gratuita e que não se traduz em poluição; é energia que é convertível em matéria orgânica vegetal pelas plantas e, depois, em carne e leite, pelos animais. No passado, fomos inovadores a aproveitar a energia do vento, uma das expressões da energia solar; foi com ela que demos volta ao Mundo.

De vento em popa, achámos territórios até então desconhecidos dos povos europeus, abrimos caminhos marítimos e lançámos um movimento que se chama “globalização”. Sim, se hoje nos deliciamos com uma chávena de café ou de chá, ou usamos condimentos como a pimenta, foi porque aprende-mos a usar a energia do vento. Se hoje comemos kiwis e mangas todo o ano, é porque o comércio foi “globalizado”. E não só o comércio, mas também o conhecimento.

Não fomos os únicos, mas fomos pioneiros. Muito antes de nós, também os chineses empreenderam viagens marítimas. Porque é que as viagens deles caíram no esquecimento? Porque recusaram a inovação e optaram por se fecharem no universo estreito da sua cultura estática. Arrependeram-se da ousadia marítima a ponto de incendiarem propositadamente toda a frota composta por centenas de grandes veleiros. Orgulhosamente sós, permaneceram fechados durante séculos.

Se nos perguntarem o que é que este nosso país, hoje envelhecido, contribuiu para o progresso da humanidade, a resposta pode resumir-se simplesmente àquela estrofe do poeta: “deu novos mundos ao Mundo”.

Vem esta nostalgia a propósito de quê? Da necessidade de voltarmos a ser inovadores, de nos abrirmos a novos desafios que consubstanciem oportunidades aliciantes para os jovens.

Portugal é, hoje, indubitavelmente, um país envelhecido. Os nossos decisores políticos mostram-se atarantados quanto a soluções de rejuvenescimento, digladiam-se em torno de medidas destinadas a reter a juventude, que são tão somente, atos de fé. Durante muito tempo, o conhecimento incipiente dos idiomas estrangeiros, constituía um travão à saída dos jovens. Hoje, todos dominam a língua franca, o inglês, e encontram facilmente no estrangeiro oportunidades para iniciarem uma carreira profissional e, consequentemente, constituírem família.

Por cá, pensa-se que basta aumentar o salário em três tostões, oferecer reduções nos impostos ou facilidades na compra de casa, para os aliciar a ficar. Erro! O que os jovens procuram não são descontos, são oportunidades de trabalho em que seja reconhecida a sua competência, remunerado o seu esforço, premiado o mérito e desburocratizada a iniciativa. Tentar retê-los, neste momento, com promessas tacanhas, não surtirá qualquer efeito.

Ponhamos os olhos no PACT, o Parque de Ciência e Tecnologia do Alentejo, um excelente exemplo criado pela Universidade de Évora para transformar o conhecimento em inovação tecnológica, a formação académica em oportunidades de vida.

Criámos um Mundo tendencialmente sem fronteiras; nós próprios, abolimos as nossas! Não nos arrependamos; aproveitemos, tornando-nos aliciantes. Sejamos, nós próprios inovadores, por exemplo… domesticando o sol do Alentejo!

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