Jorge Pais quer “fundo de risco” para financiar empresas

Presidente do Nerpor desafia Governo a criar “fundo de risco” para financiar crescimento empresarial. Luís Godinho (texto) e Alexandre Barahona (fotografia)

Faltam incentivos fiscais para promover a instalação de empresas nas regiões do interior, e os que existem não funcionam, além de que o Banco de Fomento “tem uma lógica muito idêntica à da banca comercial, está em Lisboa e no Porto, mas não conhece o interior”. Por isso, o presidente do Núcleo Empresarial da Região de Portalegre (Nerpor), Jorge Pais, lançou o desafio ao ministro da Economia para a criação de um “fundo de risco” com capacidade para ter participações sociais nas empresas, financiando a criação de novas unidades e a expansão dos projetos empresariais já instalados no território.

“Estamos a falar de uns 10 a 12 milhões de euros para o Alto Alentejo, seria o bastante”, refere o empresário, que aproveitou uma recente deslocação do ministro António Costa Silva a Portalegre para insistir na ideia, convicto que o fundo de apoio empresarial “poderá ser criado por algumas verbas que, eventualmente, resultem do Plano de Recuperação e Resiliência, mas também por instituições financeiras e grupos empresariais que possam beneficiar de incentivos fiscais pela subscrição de capital”.

A ideia, explica, é criar “um fundo de participação nas empresas, não apenas de financiamento, capaz de assegurar boas práticas de gestão e de fazer com que a banca comercial tenha outra confiança e se sinta mais confortável no financiamento às empresas”.

Isto porque “muitas empresas” não se conseguem financiar junto da banca, “ou porque não têm garantias suficientes de capital próprio”, ou porque “não têm um histórico” de atividade empresarial que funcione como garante dos empréstimos. “Através da criação do fundo, e com uma só cajadada, resolver-se-iam vários problemas”, assegura Jorge Pais, revelando que o ministro da Economia “prometeu estudar o assunto com toda a boa vontade”, mas sem assumir qualquer compromisso. “Também já apresentámos a ideia ao primeiro-ministro, sem resultado prático”.

O presidente do Nerpor sublinha que sem empresas não haverá criação de emprego. E sem empregos a região continuará o processo de despovoamento e de envelhecimento. “É fundamental uma outra atratividade fiscal para a localização de empresas no interior e para melhorar o estado das que se encontram instaladas”.

O problema é que as bonificações fiscais às empresas com sede em regiões de baixa densidade – taxa reduzida de 12,5% de IRC para os primeiros 50 mil euros de matéria coletável – são “insuficientes”, desde logo porque boa parte dessa margem é “consumida pelos custos de contexto”, depois porque se trata de um incentivo “que não justifica que as pessoas se desloquem para investir no interior”.

Por outro lado, acrescenta, os prémios à criação de emprego “são os mesmos, quer se esteja em Portalegre ou em Lisboa, não existindo uma discriminação positiva” dos territórios do interior. Daí a necessidade de “um fundo de investimento regional, com outra capacidade de intervenção junto de um tecido empresarial formado por pequenas e microempresas, que são largamente predominantes na região”.

“Devo confessar que às vezes me sinto desiludido e com vontade de atirar a toalha ao chão, mas, por bairrismo, por ter toda esta vivência na luta pelo desenvolvimento da região, por ter aqui as minhas raízes, por ter aqui a minha vida, lá tenho resistido à tentação de abandonar a luta”, desabafa Jorge Pais, lembrando que os vários ciclos de fundos comunitários “não tiveram o impacto pretendido” na região, não originaram “uma mudança significativa na base produtiva” e não foram eficazes no sentido de “alterar este plano inclinado de diminuição demográfica, em que somos cada vez menos e cada vez mais velhos, sobretudo no Alto Alentejo”, hoje habitado por menos 23 mil pessoas que no início do século.

“Estamos nesta situação caricata de que, para encher o estádio da Luz ou o de Alvalade teremos de levar todos os velhinhos da região, caso contrário nem para isso temos número suficiente”, ironiza o presidente do Nerpor, recordando que a própria capital de distrito tem vindo a perder população, com uma quebra de 10% no número de residentes na última década. “Évora e Beja, com Alqueva, conseguiram encontrar outras atividades que ainda lhes dão algum dinamismo económico, ao contrário do que sucede com Portalegre”, conclui.

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