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José Alberto Fateixa: “Portugal e as migrações: ações e interações”

A opinião de José Alberto Fateixa (professor)

Portugal tem uma longa história de ações e interações no mundo. Guerras com castelhanos e árabes, aventuras navegantes, descoberta de ilhas (por vezes não povoadas), ocupação e proclamação da posse de terras. Tomemos como exemplo a Madeira e os Açores, as Áfricas, o Brasil, as Índias, a Formosa, a viagem de circunavegação.

Na expansão nessas terras, por lá ficaram portugueses, de lá transferimos muitíssimas pessoas de uns pontos para outros do planeta (aliás os portugueses foram os maiores transportadores de escravos) e somos, de algum modo, muito corresponsáveis pelas misturas de raças. Para os territórios ocupados levámos a religião, o que levantou divisões uma vez que, as pessoas dessas terras já tinham as suas crenças, tendo sido geradores de conflitos religiosos.

No séc. XVI e seguintes perseguimos, matámos e expulsámos os judeus e em vários momentos, fomos invadidos por castelhanos e franceses, celebrámos alianças com os ingleses, e muitos ficaram por cá. Destaco os ingleses e a sua ação no Douro ou na Madeira, com o determinante das explorações de vinhos de referência mundial. Aquando da II Guerra Mundial, Portugal foi espaço de abrigo e acolhimento de refugiados que na Europa foram perseguidos pelos nazis.

No pós-guerra e em especial na década de 60 e até ao 25 de Abril mais de um milhão de portugueses emigraram, aliás dizia-se na época “partir é resistir”.

O atraso do país, a pobreza, a falta de expetativas, a guerra colonial e a falta de liberdade levaram muitos portugueses, geralmente a salto, isto é clandestinamente, a procurar uma vida melhor e mais digna na Europa democrática (França, Luxemburgo, Alemanha, Suíça, Inglaterra) e os das ilhas na América (Estados Unidos, Brasil, Venezuela).

Por exemplo, recordo que milhares dos nossos emigrantes que, na periferia de Paris, viveram anos em bairros de lata, (bidonville) sem condições de habitabilidade, sem eletricidade, sem água potável, nem saneamento. No início eram geralmente homens pouco qualificados, que demonstraram ser mão-de-obra importante na revitalização de França, principalmente nos trabalhos que os franceses não queriam.

Foi determinante a ida das mulheres, e o trabalho de porteira, que levou para dentro das cidades as famílias, o que permitiu aos seus filhos começaram a frequentar as mesmas escolas que os franceses. 50 anos depois do 25 de abril, os portugueses que emigram são jovens livres, muito qualificados que procuram uma valorização profissional diferenciada.

Portugal, periférico na Europa e central no Atlântico, tem uma longa história de movimentações de pessoas (livres e escravas), de perseguição, acolhimento e expulsão, de emigração clandestina e legal… saibamos estar à altura do momento histórico que vivemos.

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