José Alberto Fateixa: “Viva o 25 de Abril”

A opinião de José Alberto Fateixa (professor)

1. Em 1974, Portugal era um país internacionalmente isolado que vivia uma guerra historicamente perdida. A análise de dados dessa altura, demonstra que Portugal era um país atrasado relativamente a outros países da Europa, com níveis de pobreza vergonhosos, com uma esperança média de 68 anos, em que 35% da população era analfabeta, com leis que diminuíam o papel da mulher e em que os índices de bem-estar eram baixíssimos…

No período 1960-74 a emigração de portugueses para os países da Europa ultrapassou o milhão de pessoas, grande parte deles clandestinos, que trabalhavam no que era possível para sobreviver, ou que eram refugiados políticos.

Vivíamos uma ditadura de partido único, que perseguia e prendia os que tinham ideias diferentes, onde a censura condicionava a circulação de informação(os casos de corrupção que existiam não podiam ser divulgados). Era evidente o sentimento de desesperança num regime que tinha perdido o respeito interno e externo.

2. O 25 de abril de 1974 começou por ser um golpe de estado protagonizado por militares com razões corporativas, ao qual associaram a intenção política de devolver a liberdade e instaurar a democracia. A fantástica adesão popular ao longo dos dias mostrou um novo tempo e conduziu a um processo social e político de transformação do país. Foi um tempo de enormes desafios: promover a descolonização, ganhar o respeito internacional, recuperar o atraso do país, trabalhar para dar melhores níveis de vida aos portugueses e estruturar a democracia tendo em vista a criação de um Portugal mais justo e desenvolvido.

A primeira fase, desde o dia 25 abril de 1974 ao dia 2 de abril 1976 (quando o Parlamento eleito aprova a nova Constituição) fica marcada por grandes avanços civilizacionais, mas também grandes tensões sociais, políticas e militares como é o caso do 28 setembro, luta pela liberdade sindical, do 11 de março, comício do PS na Alameda, as eleições para a Assembleia Constituinte a 25 de abril de1975 e também o 25 de novembro de 1975.

3. A 25 de abri de 1974 tinha 15 anos, vivi, portanto, em ditadura e em democracia. 50 anos depois e quando olho para o caminho feito, se é verdade que muitos sonhos ficaram por realizar, tenho a noção clara que mesmo havendo muita coisa para resolver, o país e as pessoas estão muito melhores.

Defendo que o 25 de Abril tem autores, mas não tem donos e é essencialmente caracterizado pela viragem política e a mudança de regime. Desejo que no futuro Portugal possa continuar a afirmar-se pela liberdade e pela livre existência de partidos com ideologias distintas. Que através do voto, todos possam livremente expressar a sua vontade e que jamais se percam os valores de Abril.

Viva o 25 de abril!!

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