Gandra d´Almeida, que até há pouco, penosamente, fazia as vezes de diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde, com acumulações impossíveis de executar por comum ser humano. Sérgio Dias Janeiro, compadre do primeiro, recomendado por ele para Presidente do INEM, ligado brutalmente às mortes “alegadamente” ligadas ao (dis)funcionamento do serviço que ainda “dirige”. Agora, para dirigir executivamente a rede de cuidados, nomeado outro Almeida, o Álvaro, ex-deputado do PSD e vereador no Porto.
Uma rede de influências ligadas a irregularidades, a interesses económicos e à “máquina” laranja, sediada no Porto, capitaneada pelo líder da Ordem dos Médicos/Norte, Eurico Castro Álvares, o promotor ideológico do chamado Plano de Emergência para a Saúde, bandeira desta ministra que, passados vários meses, está a meia haste, com elevadas doses de incumprimento.
Ana Paula Martins, responsável máxima governamental por assegurar boa saúde aos portugueses, permanentemente a revelar incapacidade política e “intervindo” no espaço público sem qualquer clarividência. Na linha do que, de resto, já acontecia ao seu antecessor (rosa) Manuel Pizarro, com o corpo no ministério e a cabeça a congeminar o melhor caminho para ganhar a Câmara do Porto.
Para já não falar nas secretárias de Estado Jamila Madeira (PS), no balanço covid diário televisivo em 2020, a fazer figura patética, ou Cristina Vaz Tomé (agora, PSD), desautorizada publicamente de forma enxovalhante no caso INEM, mantendo-se agarrada ao lugar, ao invés da mais elementar dignidade, até pessoal…
Que saudades de Correia de Campos ou de Leonor Beleza (sem menosprezo, pela omissão, de outros), dois casos de ministros da pasta que eram, mesmo, um senhor e uma senhora, como sói dizer-se…
O relatado antes, pelos contornos que assume, são “casos de polícia” e esquemas que só a PJ e a Inspeção Geral da Saúde serão capazes de investigar e esclarecer.
Mas, neste artigo, não é, fundamente, disto que nos queremos ocupar. Se o engenho nos permitir, o que temos em vista é enquadrar os problemas que impedem os utentes (cada vez mais clientes, face ao valor apurado para a média do que cada cidadão gasta, à sua conta, dos mais altos à escala europeia) do acesso (que deveria ser) em tempo razoável e a cuidados de qualidade.
O SNS, com garantia constitucional, deve ser melhorado na maneira como funciona. Mas isso não se faz apenas com “mais verbas no Orçamento do Estado” e com “melhores condições salariais”, de resto reivindicações legítimas. Mas, com o aumento dos gastos em saúde, com aumentos brutais ano após ano , conclua-se que o que há a fazer é muito mais (e mais complexo) que isto.
Tem de haver alteração estrutural e de organização, mais rigorosa e mais flexível, com o centro da intervenção posto no utente/doente. O que, convenhamos, nem sempre é a tónica das opções nos nossos políticos. Que têm de responder pela saúde de todos os portugueses, como primeira prioridade, e não ficando a reboque de interesses (mesmo que justos) de grupos profissionais, tanta vez com espírito demasiado corporativo.
Há que desmistificar termos poucos médicos, quando somos o segundo país da União Europeia com mais clínicos, apenas superados pela Grécia e com quase o dobro dos dramáticos “desertos médicos” a que se deixou chegar a França.
O reequilibro dos papéis dos diferentes profissionais, redistribuindo ousadamente tarefas e mesmo competências, a nosso ver, é decisivo. Tal como entre os diversos atores, com cooperação entre parceiros do sector, caso de hospitais, centros de saúde, farmácias (sim, tantas vezes esquecido o potencial para intervir no cuidado e educação sanitária dos doentes), clínicas e hospitais privados, que têm de se redistribuir à escala de todos os territórios e receber todos os que o desejem sem ter de pagar a despesa (tão alta, por falta de regulação efetiva) integralmente do seu bolso, com a agravante de todos sabermos que são os mais pobres (sem qualquer subsistema ou seguro) que lá deixam o que têm e não têm, sem qualquer forma de apoio.
Com apresentação de propostas concretas, a seguir iremos, por exemplo, desmistificar o brutal número de utentes sem médico de família. Claro que muitos há (desnecessariamente, com boas medidas) nessa situação, mas não nos termos do discurso público e político, que fala de milhares.
Sobre tudo isso, o foco central tem que se colocar na saúde pública e cuidados primários que o sejam mesmo e não apenas de nome, distorcendo conceitos. Para não se falar só de cirurgias em atraso e dos meses de espera por uma consulta, mesmo em muitos centos de saúde e valorizando a prevenção e a educação para a saúde. Que, sendo um braço decisivo, além dos serviços de saúde pode ser, por exemplo, parceira com órgãos de comunicação social, a começar pelas televisões em horário nobre, com a escola de temas e orientação adequada, supervisionados pela velhinha (no tempo) Direção-Geral da Saúde, onde os recursos também são muito mal aproveitados nesta batalha que a todos tem de envolver… Sem perder mais tempo.