José Manuel Santos: “O cante não é uma moda, é uma prática cultural”

Aí está um novembro “em grande” para celebrar o décimo aniversário da classificação do cante alentejano como Património Imaterial da Humanidade. O presidente da Enti- dade Regional de Turismo diz que a região tem hoje “uma imagem completamente diferente” da que tinha há dez anos. E para isso, sublinha, “muito contribuiu o cante”. Luís Godinho e Ana Luísa Delgado (texto) e Cabrita Nascimento (fotografia)

Onze grupos de cante do concelho de Serpa, acompanhados pela Banda Filarmónica da cidade e por 50 músicos convidados. Em palco estiveram mais de 300 pessoas, num “EnCanto Sinfónico” que marcou o arranque das comemorações dos 10 anos de classificação do cante pela Unesco.

“Este percurso de 10 anos fez com que o cante se transformas- se num símbolo do que é a cultura e a identidade do Alentejo”, diz o presidente do Turismo do Alentejo, José Manuel Santos, segundo o qual trata-se “não só uma herança cultural, mas essencialmente uma projeção do que a região sente e quer fazer”.

José Manuel Santos, que há dez anos participou na equipa de preparação da candidatura, faz um balanço “muito positivo” daclassificação pela UNESCO.

“O Alentejo tem hoje uma imagem completamente diferente daquela que tinha há 10 anos. E eu acho que o cante contribuiu muito para isso, os portugueses gostam do cante, mas têm respeito por ele. Percebem a ligação profunda que o Alentejo tem ao território, às suas gentes, à sua cultura. O cante é o expoente disso, não é uma brincadeira, não é uma moda, é uma prática cultural do quotidiano das pes- soas”, acrescenta o presidente da Entidade Regional de Turismo, chamando a atenção para a forma como as gerações mais jovens continuam a “assimilar” esta tradição e a cantar como o faziam os seus pais e os seus avós. Também para a entrada do cante nos conteúdos escolares, e para a forma como os municípios o celebram em equipamentos culturais, oficinas ou ensaios abertos.

“O turismo também utiliza o cante”, prossegue, “não numa lógica de folclorização, mas na medida certa, como parte da nossa cultura, da nossa história, da nossa identidade. O cante fez com que nos reencontrássemos connosco próprios”.

De acordo com José Manuel Santos, na promoção do Alentejo, especialmente junto dos mercados externos, tem sido “muito importante”, desde logo por ser um “elemento de convergência” de toda a região. “Os anos passam, a classificação foi em 2014, e obviamente que a Entidade Regional de Turismo, que teve um papel muito importante na candidatura, não se podia alhear destas comemorações. Não podíamos passar ao lado”.

Daí a aposta na elaboração de um programa que conciliasse todas as celebrações a nível municipal, sobretudo nos concelhos onde o cante tem mais expressão. “Sabendo que seria difícil chegar a um programa consertado entre todos, no tempo e nas temáticas, porque as coisas são como são e há muitos eventos programados, decidimos num programa de comunicação e fazemos do cante um argumento para trazer as pessoas ao território. Este é um período importante para trazer turistas nacionais e, então, criámos uma agenda de eventos”, sintetiza.

Toda a informação sobre as diversas iniciativas agendadas foi reunida na página de internet do Turismo do Alentejo, e serão propostos “cinco grandes passeios” em torno do cante. “Claro que do ponto de vista territorial o Baixo Alentejo, onde o cante é mais expressivo, não é apenas ali, mas onde é mais expressivo, terá a parte de leão destes passeios”.

José Manuel Santos não tem dúvidas: “O cante já é uma manifestação de Portugal, as pessoas gostam do cante, também porque gostam muito do Alentejo”. Aos cinco itinerários de visita, junta-se um conjunto de atividades que inclui concertos, missas cantadas, exposições ou colóquios, num calendário de iniciativas onde se integra, por exemplo, a inauguração do projeto museográfico da Taberna dos Camponeses, em Pias, e a Vin&Cultura em Ervidel (Aljustrel).

A cerimónia comemorativa está marcada para dia 27 de novembro, em Ourique. No dia seguinte será inaugurada em Cuba a exposição “Cante Alentejano”, com trabalhos da fotojornalista Ana Baião, que lançará nesse mês um livro alusivo aos 10 anos de classificação.

Outro momento alto será o Cante Concerto Clássico, dia 27 de novembro, na Casa do Alentejo. Trata-se de um concerto clássico, com o Coro Ricercare e Orquestra Darcos, com direção do maestro Nuno Côrte Real, baseado no “Cancioneiro de Serpa”, de Maria Rita Cortez.

Em Borba, no dia 9 de novembro, haverá o tradicional circuito das tascas, realizado no âmbito da Festa da Vinha e do Vinho, e que será animado por cante alentejano. Em Redondo, de 22 a 24, regressa o “Vinho e Artes”. E em Mourão, dia 24, será inaugurada uma exposição dedicada ao cante, na Galeria Municipal, seguindo-se um encontro de grupos corais – e são quatro, só neste concelho da Margem Esquerda.

UMA REGIÃO EM FESTA

Canto tradicional polifónico realizado por grupos corais amadores e apoiado num vasto repertório de poesia tradicional, cujas letras, de temática variada, refletem a vivência das pessoas nas zonas rurais do Alentejo, o cante foi classificado Património Imaterial da Humanidade em 2014. Volvidos dez anos, a Entidade Regional de Turismo lembra que a tradição se mantém viva e diz que “para o comprovar” há toda uma série de eventos a decorrer em novembro. Um dos pontos altos será o lançamento do livro “10 Anos de Cante”, da autoria de Ana Baião, fotojornalista do semanário “Expresso”.

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