Jovens arquitetos propõem soluções para pedreiras desativadas

O que fazer das pedreiras desativadas? Alunos do mestrado de arquitetura da Universidade de Coimbra mostram que há “mais mundo”, além do entulho.Luís Godinho (texto)

E se uma pedreira desativada fosse transformada num resort turístico? Ou num centro de investigação dedicado ao anticlinal de Estremoz? Ou, porque não, aproveitar as ruínas da Estrada Municipal 255, em Borba, mais a pedreira confinante para edificar um memorial às pessoas que aqui perderam a vida? Ideias não faltam. E projetos também não.

O Centro de Estudos de Cultura, História, Artes e Patrimónios (Cechap) lançou o desafio aos alunos de mestrado do Departamento de Arquitetura da Universidade de Coimbra para durante dois anos (2022/24), em contexto académico, conceberem soluções para dar “nova vida” a antigas pedreiras de mármore. Os projetos foram desenhados para lugares concretos. Ou seja, será possível pegar-lhes e executá-los nos locais específicos para onde foram pensados, sendo que até existem estimativas de custo.

Foi um exercício, sim. Mas um exercício que permite abrir horizontes no que ao desenvolvimento sustentável diz respeito, através de propostas que permitem a reabilitação de recursos existentes, a requalificação ambiental e paisagística do território e a criação de condições para o desenvolvimento económico e para a fixação de pessoas. É arrojado? É. Será utópico? Bom, isso dependerá do destino final que se queira dar a este conjunto de projetos. Já é um ganho o facto de se terem pensado soluções para as pedreiras desativadas, demonstrando que o clássico “entulhamento” pode dar lugar a alternativas inovadoras e com impacto socioeconómico e cultural.

“O que se pretendeu foi proporcionar a estes alunos integrados no programa Erasmus, portanto, alunos de várias nacionalidades, a oportunidade de pensarem a paisagem das pedreiras de mármore enquanto lugares para usufruir do ponto de vista cultural e dar uma nova valorização a pedreiras que estão paradas, desativadas, valorizando estes lugares”, sintetiza Carlos Filipe, presidente do Cechap.

Conversamos nas instalações do Centro, em Vila Viçosa, onde os 10 projetos assinados pelos alunos de mestrado da Universidade de Coimbra integraram uma exposição muito justamente chamada “Jazida Marmórea do Anticlinal – Potenciar Patrimónios”. O título diz tudo. A exposição já encerrou, mas o Cechap constituiu-se como “guardião” destes projetos, pelo que quem andar à procura de “inspiração” para “resolver” o problema das pedreiras desativadas, seja instituição pública ou empreendedor privado, poderá bater-lhes à porta.

Ideias, como se viu não faltam. “Neste caso aqui”, diz-me Carlos Filipe, apontando para um dos desenhos, “pretende-se reocupar o vazio, criando dinâmica a partir da realidade da indústria. Até se pode observar que se trata de uma indústria ativa, a pedreira está a laborar, mas esta zona pode ser integrada para usufruição turística”. Mais à frente, o jovem arquiteto olhou para o espaço e imaginou, e projetou, um centro de investigação dedicado ao anticlinal de Estremoz. “Esta jovem”, prossegue o diretor do Cechap, “propõe uma arquitetura exposta para fora isto é, construir um edifício em que os cilhares, estes conjuntos irregulares, são dentados, funcionando num corredor como uma espécie de labirinto com várias funções”.

Uma outra proposta passa por “escavar o interior, que é também escavar a memória”, e que divide o espaço da antiga pedreira em vários patamares, como se um edifício tivesse sido construído na própria rocha. “É um edifício centrado num eixo, sempre concebido a partir deste recurso e deste lugar”, refere Carlos Filipe, fazendo questão de destacar o contributo decisivo do arquiteto Guilherme Machado Vaz, diretor do curso de mestrado, para a concretização do projeto: “Tudo começou num diálogo que tivemos há dois anos, eles visitaram várias vezes o território, levaram fontes documentais e trabalhos cartográficos que têm sido desenvolvidos para estes espaços, em vários estudos, e começaram a trabalhar nas pedreiras de Borba e Vila Viçosa”.

Claro que em Estremoz “também existem pedreiras fantásticas”, prossegue o presidente do Cechap, justificando a sua não inclusão nesta primeira série de trabalhos por ter encontrado “pouca abertura” ao desenvolvimento do projeto. “Estremoz tem três núcleos de pedreiras muito interessantes, onde os alunos também podiam ter desenvolvido algum trabalho, mas esta foi uma etapa. No próximo ano haverá um outro curso de mestrado e, portanto, esperamos que esses alunos já possam vir a trabalhar sobre o espaço em Estremoz”, conclui. 

MEMORIAL ÀS VÍTIMAS

Um dos projetos dos mestrandos da Universidade de Coimbra propõe a criação de um memorial a todos os homens que ao longo da história “morreram ao serviço das pedreiras e desta indústria”, incluindo as vítimas do colapso da Estrada Municipal 255, entre Borba e Vila Viçosa, ocorrido em novembro de 2018. “Seria um memorial coletivo, utilizando as escombreiras, portanto, procurando valorizar e construir uma nova paisagem através dos desperdícios da indústria extrativa”.

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