Faltam palavras para descrever o que vimos quando nos aproximamos do Castelo de Veiros e encontramos um troço da muralha no chão, há quase dois anos, no indiferente deixa andar da Câmara de Estremoz e do Estado, no fundo de quem deveria ter a responsabilidade de garantir a salvaguarda do nosso património histórico.
Faltam palavras quando somos confrontados com a triste realidade da Fábrica Robinson, ou do que dela resta, um legado que ao longo dos anos tem sido alvo de saque e de vandalismo, numa incúria que a todos deveria alvoroçar.
Faltam palavras quando sabemos que a anta grande do Zambujeiro, com mais de 5000 anos de história, ameaça colapsar perante a passividade dos poderes públicos e a mais absoluta inércia, diria irresponsabilidade, dos poderes políticos, a começar pela Câmara de Évora.
Faltam palavras quando temos de noticiar que há dezenas e dezenas de monumentos, muitos deles classificados a nível nacional, abandonados, em ruína, num processo de degradação que a todos deveria envergonhar.
O património constitui uma fonte de identidade e de coesão. E é também por isso que faltam palavras quando constatamos a inexistência de um sobressalto cívico perante o avolumar de casos, sempre e sempre mais, todos eles no mesmo sentido: não há interesse (e, por isso, não há dinheiro para) salvaguardar castelos, monumentos megalíticos, expressões do património imaterial e muitos outros bens culturais que chegaram aos dias de hoje, que nos foram legados e que, pura e simplesmente estão abandonados.
Faltam palavras para traduzir o sentimento de revolta perante a inexistência de uma Carta Arqueológica em Elvas (cujas fortificações – lembram-se? – foram classificadas Património Mundial), o que conduziu à destruição das ruínas da Atalaia da Fonte Branca (ou Fonte Sagrada), para dar lugar a um investimento privado.
“Não se pode proteger quase de forma absurda e exagerada o que está num determinado perímetro, e permitir que tudo o que está à volta seja praticamente esventrado e pilhado”, refere o arqueólogo André Carneiro.
Não, não se pode permitir este tipo de destruição, nem permitir que estas situações sejam validadas pelos poderes instalados. E, já agora, temos o dever de exigir a quem tem responsabilidades pela salvaguarda do património, no caso a ex-Direção Regional de Cultura do Alentejo, atualmente a Património do Estado IP e a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo, que cumpram a sua missão, não deixando que a inércia e o desleixo se instalem ainda mais.
Na Alentejo Ilustrado temos vindo a publicar uma série de artigos sobre o estado de degradação em que se encontra boa parte do património da região. Bem sei que estamos novamente a ser inconvenientes, que muito boa gente preferia que não se falasse do assunto, que o Estado central, que os organismos de tutela que assobiam para o lado para evitar chatices, estariam mais confortáveis se o foco incidisse nos casos que correram bem (e que também os há). Não contem connosco para isso.
A preservação e valorização do património cultural e natural não é apenas uma tarefa fundamental do Estado (Governo e autarquias), é também uma exigência da comunidade. E, sim, faremos o nosso trabalho, denunciando os problemas, apontando os responsáveis e exigindo soluções.