O que deve fazer um político sensato, genuinamente empenhado no desenvolvimento da sua terra, depois de ultrapassada a “guerra” eleitoral e conhecidos os resultados? A pergunta parece simples, mas a resposta nem sempre é evidente na prática. Dirá qualquer democrata que esse político deverá interpretar a vontade dos eleitores. Deverá ir para a oposição — cuja função é tão importante quanto a da governação — ou, se o peso da força política que representa, porque venceu as eleições ou porque os seus votos são decisivos para uma maioria estável, deverá estar disponível para dialogar, construir pontes e participar numa solução de governo.
Bem sei que é mais fácil enunciar do que concretizar. As divergências políticas e ideológicas são, por natureza, complexas, e a elas somam-se muitas vezes feridas pessoais, ressentimentos acumulados e trocas de palavras duras, às vezes a roçar o insulto. É por isso que é tão extraordinário — e tão relevante — o acordo conseguido entre o Movimento Cívico por Elvas e o Partido Socialista, isto é, entre Rondão Almeida e Nuno Mocinha, para a gestão da Câmara de Elvas nos próximos quatro anos.
Recordemos. Em 2013, depois de cinco mandatos consecutivos como presidente da Câmara, Rondão Almeida teve de sair, cedendo o lugar a Nuno Mocinha, então eleito pelo PS. As boas relações duraram pouco. O acumular de divergências levou Rondão Almeida, primeiro, a demitir-se da concelhia socialista, em 2015, e, depois, a criar um movimento independente para concorrer contra o seu partido de sempre. Em 2017, Mocinha voltou a vencer, com o movimento de Rondão em segundo lugar. O cenário inverteu-se em 2021. Ao longo destes anos, foram muitas as trocas de “galhardetes”, embora Rondão Almeida nunca tenha deixado de se afirmar como socialista.
Chegámos, assim, às autárquicas de 2025, que resultaram numa câmara fragmentada: o Movimento Cívico por Elvas elegeu dois vereadores, o Chega outros dois, o PS também dois e a coligação liderada pelo PSD conseguiu um representante no Executivo camarário.
Quando tudo fazia prever um ciclo de bloqueio e crispação — agravado pela rivalidade entre Rondão e Mocinha e pela previsível agitação populista do Chega —, surgiu o inesperado: um acordo de gestão entre o Movimento e o PS. “Foi o acordo perfeito pelo bem de Elvas”, resumiu o presidente da Câmara. E, desta vez, é difícil discordar.
Cá estaremos para ver como decorrerá o mandato. Mas, num tempo em que a crispação domina e os ódios crescem ao ritmo dos algoritmos, esta capacidade de diálogo e de entendimento que nos chega de Elvas merece ser sublinhada. Como escreveu Max Weber, “a política é a lenta perfuração de tábuas duras”, um exercício de responsabilidade e paciência. E Isaiah Berlin lembra que “o compromisso e o ajustamento são as únicas respostas racionais à pluralidade dos valores humanos em conflito”.
Talvez por isso, este entendimento entre adversários de longa data tenha um valor simbólico maior do que aparenta. É um gesto de maturidade política, raro e saudável, que mostra que ainda há espaço para a razão e para o bem comum na esfera pública. São, de facto, bons ventos — e a perspetiva de bom casamento — os que sopram de Elvas.











