Veja esta foto, caro leitor, ou a outra que também publicamos na edição diária da “Alentejo Ilustrado”. Repare com atenção. Sua Excelência, a ministra da Saúde, aqui retratada com um sorriso de orelha a orelha, anuncia, candidamente, que bem podemos esperar sentados: a obra de construção do novo Hospital Central do Alentejo estará concluída, quando muito, em 2027 — quatro anos depois do prazo contratado. Deixem-me ser claro: tudo isto é triste, tudo isto é fado. Mas tudo era expectável.
Nada de surpreendente, até porque o Conselho de Ministros autorizou, recentemente, uma “reprogramação temporal e financeira” dos encargos com o novo Hospital Central do Alentejo. Serão mais 32 milhões de euros, mas não é disso que quero falar. Antes, recordar que a obra foi adjudicada por 190 milhões de euros e que o custo já vai nos 237 milhões, sendo altamente provável que venha a subir ainda mais.
Perguntei a esta ministra, por várias vezes, quais os encargos acrescidos com a obra, em resultado do pedido de revisão de preços feito pelo empreiteiro — a empresa espanhola Acciona —, dirimido num tribunal arbitral cuja existência foi considerada ilegal pelo Tribunal de Contas. A sorridente Ana Paula Martins fez o favor de nada responder, assim demonstrando o seu entendimento no que à gestão dos dinheiros públicos diz respeito. Fez o mesmo às perguntas formuladas por vários grupos parlamentares. Será disso que se ri?
Por outro lado, a “reprogramação temporal” referida pelo Governo nessa reunião do Conselho de Ministros traduzia-se na prorrogação do contrato até final deste ano, ou seja, não haveria entrega da obra antes do fim de 2025. Agora, diz a sorridente Ana Paula Martins, talvez mesmo só no final de 2026 ou até — qual o problema? — em 2027.
A dra. Marta Temido, a quem devemos a autoria, pelo menos moral, desta embrulhada, tinha garantido que a construção estaria pronta em 2023. E o Governo socialista de então lá foi insistindo nessa conversa, à medida que se aproximavam eleições. Depois chegou Manuel Pizarro, e o hospital, que irá “dispor de tudo o que há de mais moderno na medicina”, ficou prometido para final de 2024.
Já com o atual Governo, a inauguração passou para o primeiro semestre de 2026. A promessa estaria a tempo de ser cumprida, não se desse o caso de o atraso nas obras ser constante, do projeto não ter sequer prevista a ligação à rede elétrica — leu bem —, de ainda serem necessários concursos para a construção de acessos e infraestruturas de abastecimento de água e de esgotos e um outro concurso, ou mais, para a aquisição de equipamentos.
Vamos então esquecer o primeiro semestre de 2026, como nos aconselha a sorridente ministra Martins. E pensar que, se a “coisa” estiver pronta no início de 2027, como diz, não será mau. Muitos anos depois do prazo contratado e muitos milhões de euros mais caro. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito teria certamente muito para destapar.
Fotografia | Nuno Veiga/Lusa