“Importa destacar que a alteração da forma de ingresso via concurso nacional de acesso foi um duro golpe à sustentabilidade das instituições de ensino superior do interior do país, e que, toda e qualquer liberalização de vagas, ou seja, a já alvitrada eliminação do ‘numerus clausus’, ditará, por asfixia, o fim de muitas destas instituições”, alertou.
Luís Loures, que falava no Campus Politécnico do IPP, no decorrer da sua tomada de posse como presidente da instituição, para cumprir um segundo mandato referente ao quadriénio 2025/2029, criticou ainda o discurso político em relação a esta matéria, alertando que a colocação de um aluno no litoral comporta mais despesas.
“Neste sentido, e ao contrário do que se tenta fazer crer, através do discurso político, (…) referimos porque é que havemos de obrigar um menino do Porto a ter de ir estudar a Beja, e a verdade é que é importante perceber que o problema não está nos estudantes que têm de se deslocar das grandes cidades para o interior, o problema é exatamente o oposto”, disse.
“Mais estudantes no litoral representam mais despesa, maiores problemas de alojamento estudantil, mais investimento público e mais financiamento. Em contraponto, no interior, mais estudantes significam apenas que nos permitem continuar a aproveitar a capacidade instalada, a ser relevantes para o país e a contribuir para a sustentabilidade das nossas regiões”, defendeu.
Para Luís Loures, a alteração ao concurso nacional de acesso ao ensino superior teve também um “impacto estrutural”, contribuindo para “ampliar” as desigualdades no país, sendo que os “sucessivos despachos” de vagas que “não têm sido capazes de estancar o aumento de vagas” em Lisboa e no Porto.
Ainda de acordo com o presidente do IPP, esta situação tem “acentuado ainda mais” as desigualdades entre o litoral e o interior, “a reboque de um conjunto de medidas travestidas de excelência e de qualidade” e que, no final, “vão servindo apenas para asfixiar ainda mais as instituições de menor dimensão” no território.
“E é também por isso que é preciso que quem se senta em lugares de decisão conheça bem o país e perceba bem o conceito de relevância, perceba que as universidades são os seus alunos e que, se não tivermos alunos, de nada nos valerá ter uma investigação de excelência, incubadoras de ponta, ou mesmo os melhores modelos pedagógicos de ensino-aprendizagem”, alertou.
“De nada nos valem os elogios públicos e as referências à relevância dos politécnicos para a coesão territorial, de nada nos vale que se criem ministérios da coesão territorial e que se apresentem programas de Governo onde a coesão territorial é referida 24 vezes de forma reiterada e consecutiva, se depois se permite que se implementem medidas que funcionam como autênticos garrotes à sustentabilidade e ao desenvolvimento das instituições”, acrescentou.
No entanto, o presidente do IPP destacou que a instituição este ano absorveu “mais de 80%” de alunos através do concurso nacional de acesso, sendo estes oriundos de fora do distrito de Portalegre.
Apesar do despovoamento, um dos principais problemas da região do Alto Alentejo, Luís Loures lembra que o IPP cresceu nos últimos oito anos, tendo passado de 1.800 para mais de 3.200 alunos: “Crescemos no número de projetos e no respetivo financiamento, passando de 1,6 para mais de 35 milhões de euros, incubámos mais de 40 empresas e criámos mais de 140 postos de trabalho”.
No que diz respeito ao futuro, e à semelhança do que foi feito nos últimos quatro anos, Luís Loures garante que o IPP possui um plano de ação que tem como principais objetivos o compromisso com as pessoas, com a qualidade, com a diversificação e reforço da atratividade da oferta formativa, com a investigação, a inovação, o empreendedorismo e com a valorização do conhecimento.
“Um plano onde se reconhece de forma clara que não se ensina o que não se sabe e não se transfere o que não se tem. E que só o investimento em investigação, em inovação e na valorização do conhecimento permitirão garantir a sustentabilidade financeira do politécnico, num período em que se perpetua a situação de subfinanciamento das instituições de ensino superior”, concluiu.
Texto: Alentejo Ilustrado/Lusa | Fotografia: Cabrita Nascimento/Arquivo











