Mais de 90 mil postos de trabalho ligados ao cavalo impulsionam interior

O cavalo está longe de ser apenas um símbolo de tradição ou um elemento do imaginário rural. É, cada vez mais, um motor económico, social e territorial, com impacto direto na fixação de população jovem, na inclusão social e na vitalidade de territórios de baixa densidade. Francisca Lapa (texto) e Nuno Veiga/Lusa (fotografia)

As conclusões fazem parte do estudo “A Economia do Cavalo em Portugal”, apresentado no Horse Economic Forum II (HEF II), que decorreu em Alter do Chão, concelho fortemente ligado à tradição equestre nacional.

Segundo o estudo, mais de 70% dos 92 mil postos de trabalho associados à fileira equestre localizam-se em territórios rurais. Este dado reforça a importância do setor na criação de emprego fora dos centros urbanos e na dinamização de comunidades frequentemente esquecidas pelas políticas públicas. “O cavalo é hoje uma ferramenta de inclusão, cultura e desenvolvimento local. Em Alter, vemos como ele transforma vidas, cria emprego e atrai talento jovem”, afirmou Francisco Miranda, presidente da Câmara Municipal de Alter do Chão.

A investigação revela ainda uma forte componente educativa e terapêutica da economia do cavalo. Mais de 3.600 pessoas frequentam anualmente programas de formação universitária e profissional diretamente ligados à atividade equestre, abrindo portas para oportunidades de qualificação em áreas como o desporto, o turismo e a saúde. Paralelamente, cerca de dois mil beneficiários participam todos os anos em programas de hipoterapia, promovidos por oitenta centros certificados. O impacto positivo destas iniciativas na saúde física, emocional e social de crianças, jovens e adultos com necessidades especiais é amplamente reconhecido.

“Este estudo mostrou que o setor equestre não é apenas um ativo económico, é um recurso social poderoso. Eventos, terapias, formação, desporto – tudo isto transforma o território e liga as pessoas”, sublinhou Alexandre Real, responsável pela organização do HEF II.

A valorização cultural do cavalo é outro ponto central do relatório, que destaca a organização de mais de 480 eventos equestres por ano em Portugal. Estas atividades reforçam os laços comunitários e contribuem para a projeção internacional da identidade portuguesa. O reconhecimento da arte equestre portuguesa como Património Imaterial da Humanidade, em 2024, veio consolidar esta dimensão simbólica e cultural. Por isso mesmo, o estudo defende o reforço da projeção do cavalo Lusitano como ativo de identidade nacional e embaixador de Portugal no mundo.

No plano estratégico, o relatório recomenda o reconhecimento da economia do cavalo como instrumento de política pública para o desenvolvimento social e territorial. Propõe ainda incentivos à qualificação dos jovens e à digitalização de serviços em meios rurais, promovendo inclusão e empregabilidade. Defende-se, igualmente, uma articulação entre as políticas de saúde, educação, cultura e desenvolvimento local para dar respostas integradas e sustentáveis aos desafios dos territórios de baixa densidade.

Entre as propostas apresentadas está a criação de uma Agenda Estratégica nacional para a fileira equestre, com o objetivo de alinhar prioridades, aumentar a notoriedade do cavalo Lusitano e fortalecer a sustentabilidade económica, social e ambiental do setor. “Não podemos continuar a ver o cavalo apenas como um símbolo: ele é uma resposta real para problemas reais. O mundo rural precisa desta valorização e os dados mostram que vale a pena investir”, afirmou Francisco Miranda, reforçando o apelo à ação política e institucional.

O estudo, da responsabilidade da consultora SFORI e coordenado pelo professor Álvaro Lopes Dias, recorreu a um modelo de análise mista, combinando dados estatísticos, estimativas diretas, indiretas e induzidas e benchmarks internacionais. O documento foi desenvolvido no âmbito dos objetivos do Horse Economic Forum, um espaço que pretende consolidar o debate sobre o papel do cavalo na economia e na sociedade portuguesa.

Durante o HEF II foi ainda apresentado o “Guia de Boas Práticas para o Sector Equino”, uma publicação pioneira promovida pela Câmara Municipal de Alter do Chão e desenvolvida pelo Horse Economic Forum com o contributo de especialistas do setor. O guia reúne orientações para garantir a sustentabilidade, o bem-estar animal e a profissionalização de toda a cadeia de valor, e destina-se a criadores, gestores, médicos veterinários e outros profissionais da fileira.

Em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, o HEF II foi organizado como evento de carbono neutro, tendo recebido o Selo Sustentável, certificando o compromisso ambiental do encontro através da medição e compensação do seu impacto ecológico.

Alter do Chão voltou assim a afirmar-se como epicentro do debate sobre o presente e o futuro da economia do cavalo, abrindo caminho para uma nova visão estratégica sobre o papel do setor na sociedade portuguesa.

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