Maria do Céu Pires: “As três burcas”

A opinião da professora Maria do Céu Pires

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Os relatórios que anualmente vão sendo publicados pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) e outras instituições dão conta da terrível situação relativa à violência doméstica. No ano de 2024 foram apresentadas na PSP e na GNR 30 mil queixas e a APAV prestou apoio a 11.993 vítimas, o que se traduz num aumento de 29,3% relativamente a 2021. Entre outubro e dezembro de 2024 foram acolhidas na Rede Nacional de Apoio a Vítimas de Violência Doméstica 1420 pessoas, 51,2% mulheres, 47,1% crianças e 1,7% homens.

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O acesso à habitação (direito humano básico) está cada vez mais difícil em Portugal, afetando sobretudo os mais jovens e as famílias de baixos rendimentos. Com rendas de preços incomportáveis vive-se, neste momento, no nosso país uma “emergência habitacional” e algumas cidades tornaram-se “montras” para turistas ricos e deixaram de ser lugar de habitação.

As consequências são muito negativas a todos os níveis e não apenas para as pessoas que ficam sem um teto para viver. Os políticos que, supostamente, defendem os valores da família, e os outros que supostamente defendem o Estado Social, deveriam – todos – ser mais coerentes… sobretudo, de- viam pensar no desenvolvimento do país, a longo prazo.

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Segundo dados da Fundação Francisco Manuel dos Santos, em 2023 existiam 1,8 milhões de pessoas em situação de pobreza, ou seja, um quinto da população vivia em pobreza e exclusão social (menos de 632 euros por mês). Os grupos de maior risco são os idosos, as famílias monoparentais, os imigrantes de fora da EU e os desempregados.

Isto significa que uma parte significativa da população não tem acesso aquilo que é básico para uma vida digna. Para além dos números, um pequeno percurso pela baixa lisboeta, pela Estação do Oriente e por muitos outros lugares mostra de forma bem visível a realidade dos sem abrigo. Também sabemos como quem lhe presta apoio é vítima de violência, como aconteceu recentemente no Porto.

E a lista continuaria…

Face a esta realidade, o que propõem alguns “representantes” do povo? Legislação contra o uso da burca em espaços públicos. Fundamento: somos um Estado laico. Se não fosse tão grave, seria para rir: os mesmos que usam (abusam de) símbolos religiosos em campanha eleitoral, que usam (abusam) da sua participação em atividades religiosas para se promoverem politicamente, falam, agora, em Estado laico?? Irão, então, propor a proibição do uso de outros símbolos religiosos no espaço público?

Gigantesca hipocrisia política, a deste populismo! Mas alguém, no seu perfeito juízo pode acreditar que eles de- fendem os Direitos das Mulheres? Ou os Direitos, seja de quem for?

O seu único interesse é semear ódio. Para colher violência e morte. É o único terreno onde se sabem movimentar. Quantas mulheres a usar burca vivem em Portugal? Quatro? Três?

Uma resposta

  1. Mas da parte dos meus concidadãos, mormente dos elementos do sexo masculino, a preocupação maior, que nos `´tolda os espíritos´´, é facto de na maioria do países que professam o islamismo, a mulheres terem que usar lenço na cabeça, e noutros terem mesmo, de usar a chamada burka; contudo, nem uma palavra de repúdio nem de condenação, contra a onda de terror, que se constata, por cá no nosso rincão, onde o assassinato de mulheres, no quadro de violência doméstica, é um drama, que urge denunciar e combater O altruísmo e solidariedade, tão peculiar do nosso povo, leva-nos a acreditar, que esta espécie de gente, descendente das mais diversas tribos, que durante séculos,aportaram por cá e da qual nos orgulhamos, se preocupa mais com os outros povos, com cujos regimes não simpatiza, do que própriamente, com as suas mulheres, que são autênticos objectos descartáveis.

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