Maria do Céu Pires: “Avenidas da Liberdade”

A opinião da professora Maria do Céu Pires

No dia 25 desci, uma vez mais, a Avenida da Liberdade, em Lisboa. Experiência única! E, este ano, particularmente sentida, forte e impactante! Momento de enorme significado político, ético e estético! Emocionante até às lágrimas! Encontrei amigos/as de longa data e falei com pessoas desconhecidas: só num contexto daqueles acontece que uma pessoa se sente ao nosso lado, no banco, e comece a falar da sua vida, da sua família, das suas vivências, em total abertura e confiança.

Foram milhares e milhares de pessoas que encheram a capital do país, na tarde do dia 25 de abril, entre o Marquês de Pombal e o Rossio, mas não foi apenas isso. Foram as pessoas e os grupos do costume, mas também novos grupos e pessoas que têm sido marginalizados, discriminados e invisibilizados!

Que alegria ver por ali os imigrantes, as mulheres ciganas e tantos outros! Tantos jovens e tantas crianças com as suas famílias! Foi, sobretudo, a alegria, os abraços, a esperança em cada rosto; a grande festa da diversidade, da confiança serena, mas também da luta, da resistência e da solidariedade! Um enorme coro que, a diferentes vozes, cantou a mesma música, a de quem ainda tem a coragem de sonhar “uma cidade nova”, como disse Francisco Fanhais.

Até o sol que tinha andado escondido se veio juntar àquele mar de gente que sonha o mesmo sonho, o de uma sociedade mais fraterna e justa!

Dia 25 também foi a festa da memória: não esquecemos quem nos oprimiu, não esquecemos o(s) momento(s) libertadores e assumimos a responsabilidade de passar o testemunho. Num cartaz que uma jovem segurava podia ler-se “trouxe um cravo por ti, avó”. Porque há valores que são intemporais e esses são os valores de Abril. Para sermos fiéis a esta memória temos, igualmente, de ser exigentes! Precisamos de exigir a quem tem responsabilidades políticas em democracia que cumpra bem o seu papel.

Dos outros, não vale a pena esperar muito, mas dos políticos que puseram o cravo na lapela no passado dia 25, esperamos/exigimos que se empenhem em cumprir, de facto, o legado da revolução dos cravos. Antes de mais, cumprir a liberdade, não discriminando pessoas com posições diferentes, não invisibilizando ou penalizando cidadãos que ousam discordar. E, em simultâneo, trabalhando para que as necessidades básicas/direitos fundamentais sejam cumpridas, desde logo, o direito à habitação.

Não é admissível que, num mesmo território, se gastem milhares de euros do erário público em festividades quando há pessoas a viver em condições sub-humanas. São muitos os caminhos de Abril ainda por cumprir. As avenidas da liberdade não são feitas de palavras vazias, mas de ações concretas, de ação política cujo centro sejam as pessoas. Todas, a começar pelas que estão em situação mais vulnerável.

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