Na sua imensa variedade, o mundo é habitado por seres de espécies, tamanhos, cores e funções muito diversas. E, no ecossistema, todos têm um papel importante! Os descendentes do homo sapiens designam-se “humanos”. Entre esses há alguns raros, muito raros, que são íntegros, bondosos, sem “rasteiras”, sonhando sempre com um mundo belo e justo. Nunca serão ricos, sendo de uma enorme riqueza…. Não conseguem ser bajuladores. Andam pelo mundo, mas não são deste mundo: neles não há inveja, mesquinhez, ambição de poder e de glória. São de um mundo que fica entre o céu e a terra, entre as nuvens e as raízes, num lugar desconhecido da maioria e que se chama esperança.
São os eleitos dos deuses, pois são feitos de uma matéria ancestral, aquela que liga o mineral, o vegetal e o animal numa aspiração comum de ser; são anjos encarnados nos sinais da inquietação e do assombro, mas também no dom da partilha e da amizade. Ensinam-nos a ver o invisível, a ousar pensar outras formas e modos de ser.
São os eleitos dos deuses com a missão de criar beleza, de inventar formas, palavras, sons, cores, gestos, que sejam capazes de apaziguar as nossas dores, de dar à existência um sentido que traga serenidade ao coração e audácia à razão. Porque estes seres incitam-nos a pensar o mundo, sempre. Dão-nos o exemplo do que pode ser “talhar a pedra.”
Quando temos a sorte de nos cruzar com algum deles, tornamo-nos melhores em humanidade, mais felizes. Mas, os anjos que andam pelo mundo, às vezes também se cansam e partem.
Quase no final de outubro (dia 22) partiu um. Deixou-nos a profunda dor da sua partida, mas também a alegria de saber que poderemos olhar o seu olhar em cada quadro que pintou, em cada movimento de uma pincelada, em cada cor que escolheu para as oliveiras. Com ele, continuaremos a “subir a montanha”, na demanda da “substância da paisagem”.
Deixou-nos uma última imagem do amor: sentado à mesa, rodeado de infinitos lápis, a ensinar o Gabriel, seu neto, na escolha das cores. Até sempre, João Queiroz! Lá, na eternidade, onde estás, acredita que não te enganaste quando me disseste “És mesmo campo…”.











