Mariana Mortágua acusa UE de trocar transição climática por tanques

A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, criticou em Évora os planos de reforço da defesa da União Europeia (UE), argumentando que a Europa já é uma potência militar e tem capacidade suficiente para se defender.

“Temos que afastar o barulho, contrariar as narrativas únicas e ter a coragem, como tivemos noutros momentos de corrida ao armamento e à guerra, de dizer que não precisamos de mais armas”, afirmou.

Mariana Mortágua falava durante a sessão “Mais dinheiro para a guerra?”, promovida pelo BE na Biblioteca Pública de Évora, onde apresentou dados sobre o investimento em armamento da UE, dos EUA, da Rússia e da China.

Segundo a líder bloquista, “a UE não tem parado de aumentar a sua despesa em armas”. O investimento europeu em defesa passou de 182 mil milhões de euros, em 2014, para 279 mil milhões, em 2022. As despesas militares da UE terão aumentado 30% entre 2021 e 2024, atingindo os 326 mil milhões este ano, destacou.

“A ideia de que a guerra na Ucrânia e a desestabilização promovida por Trump na NATO apanharam a Europa desprevenida, sem gastos militares, é mentira”, frisou.

Relativamente a Portugal, a dirigente sublinhou que o país “gasta uma percentagem maior do seu PIB em defesa do que a Itália ou a Espanha”. Referiu ainda que a Europa possui mais militares no ativo do que a China e a Rússia, sendo apenas ultrapassada pelos EUA, o que, no seu entender, confirma que o bloco europeu “é uma potência militar”.

“A Europa tem como se defender, porque exporta armas, é uma potência militar”, reforçou Mariana Mortágua, considerando que quem defende a produção de armamento como estratégia económica “está a dizer que o seu projeto futuro é a guerra”. Por isso, advertiu: “quem produz armas como estratégia económica devia saber que elas vão ser usadas”.

“Romântico é achar que se produzem armas e que elas não vão parar, mais cedo ou mais tarde, às mãos de quem as quer usar para matar, sem qualquer garantia de que acabarão nas mãos de uma democracia”, afirmou, aludindo à reconversão de empresas alemãs de transporte ferroviário na produção de tanques de guerra — uma opção que criticou, numa altura em que, disse, “a ferrovia é um dos investimentos mais urgentes para a transição energética da Europa”.

Segundo Mariana Mortágua, “a Europa abdicou daquilo em que deveria investir na sua transição climática para abraçar uma estratégia de produção de armas que todos os dados dizem não ser justificada”.

A coordenadora do BE criticou ainda os argumentos utilizados para justificar o reforço da despesa militar: “Limitam-se a dizer que a Europa está sob ameaça, que não tem capacidade para se defender, que está dependente, que haverá uma invasão ou que os EUA renegaram a NATO. É falso. É mentira. É propaganda. Temos capacidade para nos defender.”

Como alternativa, o Bloco defende uma cooperação entre Estados europeus e democráticos com fins exclusivamente defensivos, e propõe uma aposta clara na diplomacia para a paz e no desarmamento multilateral.

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