Memorando para a cooperação une Alcáçovas e Tordesilhas

Alcáçovas e Tordesilhas vão cooperar ao nível da educação, cultura e turismo. Um primeiro memorando foi agora assinado, precisamente no dia em que foi assinado o Tratado das Alcáçovas, em 1479, que repartiu os territórios do Atlântico entre Portugal e Castela. Luís Godinho (texto)

Quem chega a Tordesilhas encontra todo um roteiro turístico dedicado ao tratado que lhe deu fama mundial e em que Portugal e Castela dividiam entre si as terras “descobertas e por descobrir”, dividindo o mundo ao meio no meridiano 370 léguas a oeste da ilha de Santo Antão no arquipélago de Cabo Verde. Esse roteiro inclui, por exemplo, um museu instalado nos edifícios nobres onde os diplomatas dos dois países acertaram os pormenores do acordo. O Tratado foi assinado em 1494, um ano e meio depois de Cristóvão Colombo ter chegado à América e seis anos antes de Pedro Alves Cabral chegar ao Brasil.

Antes de Tordesilhas, 15 anos antes, o primeiro tratado em que os os dois países repartiram territórios foi assinado em Alcáçovas. Um tratado de paz, que pôs fim à guerra entre Portugal e Castelo, e cujas cláusulas reconheciam a Portugal o controlo de possessões como Açores, Madeira, Cabo Verde ou Guiné, ficando as Canárias sob a alçada de Castela. 

A presença dessa memória histórica, em Alcáçovas, está muito longe da valorização turística feita em Tordesilhas, ainda que o Paço dos Henriques, onde o tratado foi assinado, tenha sido objeto de obras de requalificação, inauguradas em 2016. Unidas pela história, Alcáçovas e Tordesilhas querem agora aproximar-se não só no plano turístico, também no educativo e cultural, tendo assinado esta quarta-feira um memorando de entendimento que irá culminar com a aprovação de um protocolo onde constarão as diversas atividades destinadas a materializar essa cooperação.

“Os Tratados de Alcáçovas e Tordesilhas”, diz Miguel Ángel Oliveira, alcaide do município espanhol, “têm muito potencial turístico, que temos de aproveitar, e este memorando vem criar sinergias para que exista um benefício mútuo”. A Tordesilhas, diz o autarca, chegam todos os meses milhares de turistas, alguns vindos da América Latina, de países como o Brasil, o Chile ou a Argentina. “Estas pessoas entendem que o seu país nasceu naquele local onde foi assinado o Tratado e têm curiosidade em o conhecer”, sublinha.

Com ascendência portuguesa – o apelido Oliveira não engana -, Miguel Ángel participou pela primeira vez nas celebrações do Tratado das Alcáçovas. Foi, aliás, a primeira vez que Tordesilhas se fez representar na iniciativa, muito provavelmente por ter também sido a primeira vez que foi convidada a fazê-lo. “É emocionante vir aqui e partilhar a celebração deste momento histórico tão importante para a história do mundo”, disse o alcaide à Alentejo Ilustrado.

Segundo Frederico Carvalho, presidente da Junta de Freguesia de Alcáçovas, o objetivo do memorando é “reforçar as relações bilaterais ao nível do municipalismo”, desde logo “através do conhecimento mútuo, da valorização [educativa e cultural] e eventual celebração conjuntas destas duas datas indeléveis na história dos dois países”.

Lembrando que Alcáçovas integra a Rede Europeia de Sítios da Paz, com um “vínculo indissociável à história de Portugal”, Frederico Carvalho diz que se trata igualmente de promover “o conhecimento dessa herança” e “assumir o sentimento de pertença ao património, reforçando os ensinamentos desses tratados”, que, passados 500 anos, continuam a ligar os dois lados da fronteira. 

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