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Meninos da Graça (Évora) em “assinalável processo de degradação”

Edificação da arquitetura renascentista no Alentejo, a Igreja da Graça há muito que necessita de obras urgentes de conservação e restauro, diz o Grupo Pro-Évora, que alerta para a urgência desta intervenção. Ana Luísa Delgado (texto) e Gonçalo Figueiredo (fotografia)

“Os Meninos da Graça estão em assinalável processo de degradação”, lamenta a associação de defesa do património eborense, assegurando que “as quatro esculturas arriscam diariamente a sua integridade, faltando já partes das argamassas que os envolvem, sendo visíveis as estruturas metálicas que os sustentam – de facto, não há memória de terem sido realizadas intervenções de conservação dos elementos escultóricos da fachada nos últimos 40 anos”. 

Segundo a associação, uma vistoria efetuada há cerca de uma década revelou que os elementos pétreos que compõem a fachada do edifício estão em “clara desagregação”. Além disso, os pombos nidificam na Igreja – “no que parece ser um problema generalizado da cidade sem resposta adequada” -, entupindo o sistema de drenagem. O que também não prejudica a conservação do monumento.

Em 2021, o Grupo Pro-Évora alertou o Ministério da Defesa (proprietário do imóvel) e a então Direcção Regional de Cultura do Alentejo (DRCA) para o problema, solicitando informação sobre a existência de eventuais projectos de conservação e disponibilizando-se para “lançar uma campanha de subscrição pública para angariação de fundos para as obras”.

Já em abril deste ano, o director de formação do Exército, major-general Vítor Dias de Almeida, informou o Pro-Évora sobre um processo iniciado em 2023 visando a realização de obras de conservação, subsistindo o problema do financiamento.

“Está em preparação a apresentação de uma candidatura ao Turismo de Portugal para financiamento de 70% dos custos da intervenção, cujo orçamento ultrapassa as disponibilidades do Exército. A nomeação de Évora como Capital Europeia da Cultura em 2027 também constitui um importante incentivo para a realização da recuperação da fachada e da cobertura da Igreja da Graça”, acrescenta o Grupo Pro-Évora, lembrando que se trata de um “monumento emblemático do património eborense, também Património Mundial”.

A Igreja de Nossa Senhora da Graça é um monumento que se integra no período de afirmação de Évora no Renascimento em Portugal, altura em que a cidade foi capital do reino durante grandes períodos, quando a Corte ainda mantinha características itinerantes, típicas do período medieval, estanciando em Évora e atraindo toda a sorte de artistas, artífices e intelectuais, que, de forma indelével, deixaram o seu legado patrimonial. 

A igreja pertenceu ao mosteiro dos frades eremitas calçados de Santo Agostinho, fundado em 1511. Foi projectada pelo arquitecto da Casa Real Miguel de Arruda, tendo colaborado no projecto o escultor Nicolau de Chanterenne e, muito provavelmente, o humanista André de Resende. A edificação do actual conjunto da Igreja e Convento de Nossa Senhora da Graça decorreu entre 1536 e 1546.

“Apesar dos atentados à sua integridade, de que padeceu ao longo do tempo – entre outros, foi bombardeada em 1663 no contexto da guerra da Restauração e sofreu o desabamento da cobertura em 1884 –, a igreja nunca perdeu a beleza do seu programa escultórico, de que se destacam os quatro Meninos da Graça. As esculturas que compõem a fachada, exemplo único na arquitectura nacional da época, correspondem às primeiras manifestações do maneirismo em Portugal, alinhadas com a melhor reinterpretação da arquitectura e iconografia romanas”, assinala o Pro-Évora.

Historiadores de arte, como Manuel Branco ou Rafael Moreira, encontram no desenho desta igreja alguns dos princípios arquitectónicos que teóricos ilustres, como Sebastiano Serlio e Diego de Sagredo, descreveram nos seus tratados. O reconhecimento do valor cultural e do interesse histórico e arquitectónico desta igreja ficou bem patente na precocidade da sua classificação, pois foi um dos primeiros imóveis a ser classificado como Monumento Nacional, em 1910.

“É tempo de os responsáveis olharem para a conservação do património como uma obrigação constitucional – que o é! – e não como um custo”, sublinha a associação.

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