Maria Teresa Horta (1937/2025), escritora e militante feminista

A escritora Maria Teresa Horta, a última das “Três Marias”, morreu hoje, aos 87 anos, em Lisboa, anunciou a editora Dom Quixote.

“Uma perda de dimensões incalculáveis para a literatura portuguesa, para a poesia, o jornalismo e o feminismo, a quem Maria Teresa Horta dedicou, orgulhosamente, grande parte da sua vida”, pode ler-se no comunicado.

No mesmo texto, a Dom Quixote lamenta “o desaparecimento de uma das personalidades mais notáveis e admiráveis” do Portugal contemporâneo, “reconhecida defensora dos direitos das mulheres e da liberdade, numa altura em que nem sempre era fácil assumi-lo, autora de uma obra que ficará para sempre na memória de várias gerações de leitores”.

Em dezembro, Maria Teresa Horta foi incluída numa lista elaborada pela estação pública britânica BBC de 100 mulheres mais influentes e inspiradoras de todo o mundo, que incluía artistas, ativistas, advogadas ou cientistas.

Numa nota de pesar, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lembra Maria Teresa Horta como tendo ficado associada “como poucos à militância feminista, tanto no domínio político-social como no literário, bem como à polémica desassombrada e à franqueza erótica”.

A nota lembra depois o percurso literário da escritora quem, num livro recente sobre o cânone literário português, era a única escritora viva, e esse lugar conquistou-o cedo com as “Novas Cartas Portugueses” (1973), de que foi co-autora com Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno.

Partindo das célebres “Cartas Portuguesas”, uma ficção francesa atribuída a uma freira portuguesa, Mariana Alcoforado, as “Novas Cartas” dessublimavam o sacrifício e a submissão, fazendo um retrato sociologicamente cru e linguisticamente inventivo da condição feminina nos anos finais da ditadura.

Perseguido judicialmente, o livro teve vasta repercussão internacional, com Simone de Beauvoir e muitos outros intelectuais ao lado das “Três Marias” (a Revolução do 25 de Abril, entretanto, extinguiu o processo).

A partir daí o nome de Maria Teresa Horta ficou poeticamente, esteve ligada à contenção afirmativa da Poesia 61, que depois prolongou por outros caminhos; na ficção, uma das suas obras com mais impacto foi a biografia romanceada da Marquesa de Alorna, de quem era descendente

A escritora Patrícia Reis lamentou a morte de Maria Teresa Horta, lembrando o seu papel “absolutamente incontornável” na literatura, no feminismo e no jornalismo, uma “mulher que era maior que tudo” e que fica “para sempre”.

“É uma perda imensa, porque a Maria Teresa é um dos grandes nomes da literatura portuguesa e é também alguém absolutamente incontornável no movimento feminista português e incontornável até no jornalismo, na história do jornalismo, porque é das primeiras mulheres a conseguir ocupar um lugar físico dentro da redação de um jornal na década de [19]60”, disse.

A autora de “A Desobediente”, biografia de Maria Teresa Horta, publicada no ano passado pela Contraponto, que era também amiga pessoal daquela que ficou como a última das “Três Marias”, fala de uma “perda imensa” e reconhece que apesar de já estar à espera, não estava verdadeiramente à espera, porque achava “que a Teresa era para sempre”.

“Claro que a Teresa é para sempre, porque a obra da Teresa está aí, está viva e estará viva enquanto nós a mantivermos viva, e eu espero que esse trabalho seja feito por todos nós leitores, pela editora, pela família, claro”.

Para Patrícia Reis, é “muito difícil, porque a Teresa era uma mulher maior que tudo, era uma mulher que tinha o dobro do sangue de todos nós, nas suas convicções, na sua liberdade, no seu sentido de justiça e isso é absolutamente louvável”.

A escritora confessa que Maria Teresa Horta sempre foi “uma inspiração”, além de amiga, por mais de duas décadas. “Foi um privilégio fazer a biografia com ela e ter a sua colaboração na biografia, mas sobretudo perceber, conforme ia falando com ela, que falar com a Teresa era falar com um pedaço da História”.

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