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Morreu o juiz conselheiro Carlos Moreno, natural de Vila Viçosa

Nascido em Vila Viçosa em 1941, filho de “gente remediada”, estudou num colégio de jesuítas, tirou direito em Coimbra e foi o primeiro juiz português no Tribunal de Contas Europeu. Fotografia: TVI

Autor do livro “Como o Estado gasta o nosso dinheiro”, Carlos Moreno, juiz jubilado do Tribunal de Contas (TC), nasceu em 1941, em Vila Viçosa. O subtítulo desse livro, em que analisa mais de 100 relatórios de auditoria relativas a grandes obras públicas, é revelador de toda uma personalidade: “Juiz jubilado do tribunal de Contas analisa duas décadas de despesismo público”.

A notícia de sua morte foi avançada pelo próprio TC, num comunicado onde o juiz presidente, José Tavares, recorda “as altas qualidades pessoais e profissionais” de Carlos Moreno, “que muito contribuíram para o enriquecimento” do Tribunal. “Guardamos com saudade a sua memória, homenageando o legado que nos deixa como grande servidor da causa pública”, acrescenta.

O livro chegou a figurar na lista dos mais vendidos. Do seu currículo na justiça, além de 15 anos passados no Tribunal de Contas, inclui-se o Tribunal de Contas Europeu, para onde rumou em 1986, tendo sido o primeiro juiz português a integrar este tribunal. Antes, foi diretor-geral do Tribunal de Contas, para onde foi nomeado, em 1980, por Francisco Sá Carneiro.

Longe estavam os tempos passados em Vila Viçosa. “O meu pai era mais racional, a minha mãe era uma emocional que tinha também uma costela, que julgo herdei dela, de libertária. Estava fora do tempo dela. Ensinou-nos, numa vila alentejana, a patinar, a jogar ténis. Era uma mulher que, repare o que era isto em 1950 em Vila Viçosa, ia ao café. Nunca lhe chamámos mãe. Chamávamos-lhe Joana, que era o nome dela”, recordou numa entrevista a Anabela Mota Ribeiro, publicada no Negócios em 2010. 

“Poucas vezes. E as minhas noras também me chamam pai. Tenho seis filhos, cinco rapazes e uma rapariga, e sete netos. Irmãos, éramos três. O meu irmão mais novo já morreu há muitos anos, com um cancro, era médico. A minha irmã era professora, já está reformada. Eu sou o mais velho”, acrescentou.

O pai era notário. Filho de gente “remediada” saiu de casa aos nove anos, acabada a instrução primária, rumando de Vila Viçosa para um colégio interno de jesuítas em Santo Tirso. Por um lado porque em Vila Viçosa “não havia sítio para se estudar”, mas sobretudo “para não mandarem o menino à solta para o Liceu de Évora, que ficava a 60 quilómetros, o que naquela altura era uma distância muito grande”. Atravessou o país de comboio, não sem “chorar à noite com saudades de casa” nos primeiros dois dos sete anos que por lá passou.

Considerado como um “jovem rebelde e recalcitrante”, contou a Anabela Mota Ribeiro que colocou três exigências ao reitor, o padre João Abranches, para deixar de protestar: “Que arranje maneira de o meu pai me dar licença para fumar, que nunca mais me ponham de joelhos de castigo e que me deixem sair aos domingos à tarde”. Tirou direito na Universidade de Coimbra. Rumou a Lisboa, onde começou por trabalhar no Ministério das Finanças, primeiro, depois nos tribunais.

“Não pode continuar a culpa a morrer solteira sempre que há desperdício de dinheiro público, mesmo que não haja nenhuma ilegalidade”, disse, na mesma entrevista.

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